A banalização da indigência nas ruas de Caxias do Sul produz situações que beiram ao desespero. A sala de espera do Postão 24 horas, o maior plantão médico do SUS na Serra, virou dormitório nas madrugadas frias ou chuvosas. É um dos abrigos mais inusitados nessa nova formatação de miséria urbana. Funcionários e guardas confirmam que de quatro a cinco pessoas adormecem sentadas nos bancos da ala adulta ou pediátrica, nem todas na mesma noite.
Nem sempre é fácil identificar um sem-teto entre os pacientes. A tática consiste em se misturar para passar despercebido. Muitos preenchem ficha e justificam que precisam aguardar uma avaliação da assistência social do Postão, cujo atendimento é no início da manhã. Quando amanhece, partem para rumo ignorado. Guardas costumam abordá-los quando deitam ou ocupam o espaço de doentes à espera de atendimento.
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O Postão tem diferenciais óbvios: é quente, seguro e possui banheiros. Com sorte, o cidadão pode ganhar lanche distribuído por voluntários de igrejas a pacientes, caso do Projeto Amor do Ministério Brasa.
Na madrugada de quarta-feira, por exemplo, a reportagem encontrou um homem de 59 anos dormindo na entrada. Questionado se usava o Postão como moradia, ele negou. Na noite seguinte, o homem estava lá com a mesma roupa e mochila. Talvez por vergonha, respondeu que gostava de passar as noites ali, mas garantiu ter moradia em outro bairro.
- Aqui converso com o pessoal - explicou.
Os guardas, porém, afirmam que ele dorme na sala de espera ou entrada há cerca de dois meses.
