Na cidade que cresce para cima com prédios luxuosos, cada vez mais a miséria se expande horizontalmente sob marquises, em terrenos baldios ou em casas abandonadas.
O avanço da indigência não é estimulado tão somente pelo vício em crack ou álcool como frequentemente se alardeia. O desemprego aliado à crença de que Caxias do Sul é uma terra de oportunidades empurra homens e mulheres para as ruas.
O perfil constatado por profissionais também desmistifica a aura de vida fácil. Saiu de cena o sem-teto tradicional, aquele aventureiro ou andarilho que brigava em casa e se desligava da família, e entrou o anônimo que perdeu o trabalho, com diploma universitário e sem esperanças de ascensão social. A esse grupo se somam sim os dependentes químicos, além de jovens que se viram forçados a deixar abrigos de adoção porque atingiram a maioridade civil e ficaram sem um lar.
INFOGRÁFICO: quem são e onde vivem os moradores de rua em Caxias do Sul
Até o final da tarde de sexta-feira, a cidade consolidava 37 pontos improvisados como dormitório ou casa, alguns na vizinhança de condomínios luxuosos. Outras duas dezenas não entram no mapa porque são considerados endereços ocasionais. Dos pontos identificados pelo Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua (Centro POP Rua), dois parecem pequenas comunidades com líderes ou regras próprias. Ainda há três ou quatro locais sob a influência de traficantes nos quais o poder público só entra com a força da Brigada Militar.
É número revelador e confirma que a população de rua se incorporou à paisagem urbana sem possibilidade de volta, a exemplo das metrópoles.
Há 10 anos, havia menos indigentes na cidade e consequentemente mais interesse do cidadão para auxiliar. Hoje, apesar de Caxias oferecer serviços para esse público, é quase impossível saber quantos e onde sobrevivem homens e mulheres sem vínculos familiares ou institucionais.
A estimativa é de que em torno de 100 pessoas se refugiem nas calçadas e casas abandonadas. É número baseado em levantamento de 2007 a pedido do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), certamente superado nos últimos dois ou três anos.
- Tínhamos 300 cadastrados até o final do ano. De lá para cá, registramos 200 a mais. Temos muitos rostos desconhecidos - diz a gerente do POP Rua, Fabiana Débora Rockenback.
Morar na rua é um direito constituído por lei, mas mexe com a rotina da cidade como nunca. Na rua, é cidadão com a vida sob penúria e ameaça. Na vizinhança, a junção de gente pelas calçadas e prédios abandonados traz transtornos e insegurança. Por outro lado, o município gasta e gastará mais para manter um atendimento de apoio sem fim.
Nesta reportagem veja onde vivem os sem-teto, histórias de gente que resiste ao relento e de quem deixou as ruas.
Vida ao relento
Desemprego favorece aumento da indigência nas ruas de Caxias do Sul
Reportagem mostra os 37 pontos onde vivem os sem-teto na cidade
Adriano Duarte
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