Na opinião do subcomandante da BM, major Emerson Ubirajara, não reagir ainda continua sendo a principal recomendação. Além disso, mesmo que seja para proteger o próprio patrimônio e que a arma esteja registrada em endereço residencial, o major diz que o comerciante precisaria de um porte ou guia de tráfego para utilizá-la no estabelecimento comercial.
São 31 anos de comércio e mais de 100 assaltos nas costas. É assim que o comerciante de Caxias do Sul, Valtuir Rizzo, 55 anos, se apresenta à reportagem. Só neste ano, foram oito assaltos nas quatro lojas de vestuário de propriedade dele em quatro bairros da cidade, três deles na última semana, com um prejuízo de quase R$ 3 mil. As consequências vão bem além da perda financeira.
Caxias do Sul registra 288 assaltos ao comércio neste ano
Os bandidos agem geralmente em duplas, armados. Aparentam tranquilidade e nem tentam esconder o rosto. A ação dura menos de dois minutos, o suficiente para deixar traumas. As repetidas ações deixam as funcionárias com medo e ansiosas, à espera do próximo ataque.
- Eu estava na porta e ele (o assaltante) me pegou pelo braço, nos colocou para o canto, queria dinheiro e celulares. Dura pouco, mas na hora parece uma eternidade. Não dormi à noite por uns dias. Há um ano e meio, a minha filha deixou o cargo de gerente de loja depois de um assalto bem violento. Ganha três vezes menos hoje. Ela precisou de tratamento psiquiátrico. Eu não tenho o que fazer. Não posso ficar sem emprego - relata uma vendedora de 40 anos.
Cansado, Valtuir Rizzo tomou uma atitude desesperada:
- Eu fico nas cabines blindadas dentro da loja, que seriam para vigilantes, cuidando da movimentação. Os custos de um segurança são caros demais. Eu fico armado. A arma está registrada, só que em endereço residencial. Os criminosos observam quando eu não estou, para atacar. Em um deles, as gurias perceberam que os assaltantes eram inexperientes, pareciam menores. Temos mais medo desses. Chegamos ao ponto de agradecer quando eles têm experiência, corremos menos riscos - encerra.
- Ainda que, para conseguir o registro, uma pessoa deva passar por testes de habilitação, reagir a um assalto sem treinamento policial ou de segurança é sempre um risco. A recomendação da corporação é sempre a de não reagir. Porém, a minha opinião pessoal é a de que o cidadão tem o direito de se defender - avalia Ubirajara.
Dono e funcionários de uma lotérica no bairro Rio Branco foram vítimas de dois assaltos no mês de junho. Um deles foi durante a gravação de uma entrevista à Rádio Gaúcha Serra, há 19 dias, onde o dono pediu à reportagem ajuda para chamar a Brigada Militar. Onze dias atrás, eles foram à polícia para o reconhecimento de um dos bandidos, um menor de 17 anos.
- Foi um dia ruim, ver ele fez tudo vir à tona de novo. As gurias (funcionárias) estavam bem nervosas, chegavam a tremer. A gente trabalha com angústia, ansiedade. Todo mundo parece suspeito, ainda mais agora, no frio, que a gente não vê as mãos das pessoas nos bolsos de casacos - desabafa o proprietário.
Nem todos superam os traumas. Dono do próprio negócio, Carlos Stallivieri, 60 anos, resolveu fechar o Correspondente da Caixa, também no Rio Branco, após ter uma arma apontada na própria cabeça. Preferiu ganhar menos e virar empregado de um escritório de advocacia.