Numa antiga piada soviética, um ouvinte liga para o estúdio da Rádio Armênia e pergunta se é possível prever o futuro. O apresentador responde que sim, sem nenhuma dúvida. E acrescenta:
- Difícil é prever o passado. Ele está sempre mudando.
Arqueólogos vão escavar o campo de batalha de Waterloo, onde caiu Napoleão Bonaparte
No dia em que se comemoram os 200 anos da mais importante batalha do século 19, a máxima continua perfeitamente válida. Como outros episódios da turbulenta história europeia, o confronto final nas imediações de Waterloo entre o exército francês, comandado pelo imperador Napoleão Bonaparte, e as forças britânicas e prussianas da Santa Aliança, em 18 de junho de 1815, é controverso.
Napoleão, o nosso
Para começar, a comemoração de Waterloo como aquilo pelo que entrou para a história - a derrota definitiva de Napoleão - corre o risco de ferir sensibilidades francesas. A França tentou dissuadir a Bélgica - em cujo solo fica a localidade que dá nome à batalha, 35 quilômetros ao sul de Bruxelas - de lançar uma moeda de 2 euros comemorativa do episódio. Não deu certo: os belgas lançaram outra peça, de 2,50 euros, válida apenas em seu território.
- Os franceses não perderam. Foi Napoleão o derrotado - afirmou Étienne Claude, diretor da comissão belga do bicentenário, ao jornal americano The Wall Street Journal.
Embora poucos questionem a ideia de que o general corso tenha sido derrotado em Waterloo, essa visão tem sido contrabalançada nos últimos tempos por uma revalorização do papel do homem que chegou à batalha sob os gritos de "longa vida ao imperador". Na noite de 18 de junho, ele se retirou para Paris, para logo abdicar e ser exilado. Quando morreu, em 1821, era de longe o cidadão mais célebre da Europa. Quanto aos vencedores, o Duque de Wellington tornou-se um dos primeiros-ministros mais detestados da Grã-Bretanha, e o marechal Gebhard von Blücher continuou merecendo as palavras que muito tempo antes lhe dedicara o rei prussiano Frederico, o Grande ("O capitão Von Blücher pode ir para o diabo").
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Até mesmo o local em que se deu o grande acontecimento é alvo de polêmica. Embora a história tenha gravado o nome de Waterloo, onde Wellington estabeleceu seu quartel-general, os combates de 1815 ocorreram nas imediações. Moradores como Antoine Delseme não se preocupam com essas minúcias:
- Vivo em Waterloo há mais de 50 anos e a história de Napoleão já conheço há muito tempo. Mas isso atrai as pessoas, faz com que o distrito seja conhecido em proveito da maioria de seus habitantes.
O centro das comemorações é Mont Saint-Jean, onde se esperam 200 mil espectadores para o espetáculo de som e luz Inferno, hoje, e para as duas grandes reconstituições da batalha, amanhã e sábado.
