Três viadutos que vão do nada a lugar algum, cones espalhados de forma de confusa, buraqueira e pavimento rachado. Este é o cenário da obra inacabada da ERS-118, uma das mais importantes e movimentadas da Região Metropolitana. Desde outubro, não há sinais de obras no trecho entre Sapucaia do Sul e Gravataí. Além da lenta remoção das famílias - algumas ainda seguem nas margens da ERS -, a falta de recursos do Estado faz com que a obra chegue aos seus nove anos sem previsão de conclusão. As três empresas que trabalham na duplicação dos 21,4km cobram do Estado R$ 1,6 milhão referentes ao último trimestre de 2014.
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O Daer não sabe precisar o valor necessário para concluir a obra. Diante da crise financeira do Estado, a autarquia decidiu fazer um diagnóstico completo da obra e montar um cronograma para liberar, por intermédio da Secretaria Geral de Governo e da Secretaria Estadual da Fazenda, os recursos necessários para dar sequência à obra. Na prática, ainda não há data para recomeço dos trabalhos, mas o Daer admite a previsão de reiniciá-la ainda este mês ou em junho.
Em nota enviada ao DG, a autarquia afirma que a prioridade é garantir "um aporte que garanta o andamento da obra num ritmo normal e evite novas interrupções - ou seja, que a duplicação da ERS-118 recomece e não pare até a sua conclusão". O dinheiro será liberado via programas ProInvest e Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), imposto cobrado sobre os combustíveis.
Chapeador assumiu responsabilidade pela sinalização de trecho
No Km 10, em Cachoeirinha, além do viaduto abandonado (que serviria para ligar a 118 com a Avenida Frederico Ritter), há uma série de cones que, devido à falta de sinalização adequada, atrapalham o motorista. Proprietário de uma oficina de chapeação, João Ávila, 42 anos, conta que chama o guincho pelo menos 15 vezes por semana para socorrer veículos em colisões. Há dez anos com negócio às margens da rodovia, quase o mesmo tempo da obra de duplicação, disse já ter presenciado ao menos 30 acidentes com morte.
ERS-118 é uma via repleta de armadilhas
Para evitar mais ocorrências, João tomou para si a responsabilidade de organizar os cones para impedir a colisão em uma barreira de concreto colocada sobre uma pista interditada.
- Para quem não conhece esse trecho, é horrível. Não dá tempo de desviar. Não está claro que não pode fazer retorno, e os veículos fazem - diz.
Segundo ele, o viaduto está há pelo menos dois anos parado. Cenário parecido se repete com os viadutos do cruzamento com a Avenida Marechal Rondon, na divisa entre Gravataí e Cachoeirinha, e a 7km dali, com o do Itacolomi, próximo ao cruzamento com a Avenida Dorival Cândido Luz de Oliveira. Todos estão abandonados.
"Uma das piores do Estado"
Na avaliação do caminhoneiro César Cantini, 56 anos, que transporta gado, a ERS-118 é uma das piores estradas do estado. Duas vezes por semana, César faz o trajeto e coleciona histórias de transtornos ocorridos devido à situação da pista:
- Já estourei pneu e já fiquei em congestionamento de cinco horas por causa de acidente. Essa estrada é péssima. Faz dez anos que ando aqui e dez anos que essa obra não acaba.
Há trechos em que sequer há sinalização dividindo o sentido das vias. Em outras, o mato cresce alto na lateral da pista, evidenciando o abandono. Materiais da obra, como canos de concreto, também podem ser vistos em alguns pontos.
O trecho mais atrasado é entre o Km 0 e o Km 5, em Sapucaia do Sul, onde houve maior resistência para retirada das famílias. O mais adiantado é o de Gravataí, entre o Km 11 e o Km 22, com 71% da obra concluída.
As placas sumiram
Em relação à precária sinalização, o Daer afirma que está prevista a revitalização nos trechos próximos aos desvios de pista. Em levantamento efetuado recentemente foi observado que várias placas sumiram (provavelmente roubadas) do local. Estas placas novas foram colocadas em outubro do ano passado para possibilitar a utilização das pistas em concreto com a devida segurança.
A respeito da qualidade da pista, o Daer efetuou recuperação do asfalto nas imediações do viaduto sobre a Avenida Marechal Rondon através do contrato de conservação. Este trabalho foi executado entre os meses fevereiro e março. Já na pista antiga da ponte sobre o Arroio Sapucaia, na divisa entre os municípios de Esteio e Cachoeirinha, o Daer fez tapa-buraco.