A matemática e a burocracia explicam por que o trânsito mais mortífero e violento de toda a Rota do Sol prevalece numa extensão de 35 quilômetros em Caxias do Sul. São acidentes repetidos à exaustão em pontos que aguardam melhorias sugeridas há dois anos pelo próprio Estado, entre o viaduto torto, no bairro Desvio Rizzo, e a entrada do distrito de Vila Seca. É tempo que custa vidas e recursos.
Mapa dos acidentes registrados nos 16 acessos mais perigosos da Rota do Sol em Caxias do Sul desde janeiro de 2013:
Levantamento extraído do Comando Rodoviário da Brigada Militar e da Polícia Rodoviária Federal comprova que 60% das ocorrências de trânsito registradas em toda a Rota do Sol, desde janeiro de 2013, se concentraram apenas nesses 35 quilômetros da ERS-122 e da RSC-453, boa parte nos acessos a bairros de Caxias.
Até 12 de abril deste ano, o trecho à espera de intervenções foi manchado por absurdos 683 acidentes desdobrados em colisões, capotamentos e atropelamentos. Vinte pessoas morreram e outras 351 restaram lesionadas ou mutiladas. O número pode ser maior porque a conta não inclui óbitos em hospitais.
A avalanche de acidentes abrange um caminho relativamente curto, que representa somente 20% dos 180 quilômetros de Caxias do Sul até o entroncamento com a Estrada do Mar (ERS-389), no Litoral Norte.
O quadro dramático tende a perdurar. O Estado alega falta de dinheiro para implantar medidas a curto prazo na RSC-453. No caso da ERS-122, com três pontos perigosos, as melhorias ficarão sob a responsabilidade da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR). Na prática, ninguém mexe na estrada até a transferência de gestão ser concluída.
Os dados apenas reforçam o que o Daer explanou para vereadores e representantes do Executivo em abril de 2013. Na época, representantes do departamento apresentaram um estudo sobre os 13 acessos mais perigosos para motoristas e pedestres nas zonas urbana e rural da Rota do Sol. O parecer, com o total de acidentes registrados nos dois anos anteriores, motivou um convênio com o município em novembro de 2013 para implantar obras e reduzir a mortalidade. Posteriormente, o Daer reformulou o estudo a pedido do Ministério Público e indicou que a acidentalidade é favorecida por 16 acessos perigosos (ver mapa abaixo). O projeto era promissor, mas avançou muito pouco.
Questões burocráticas envolvendo a gestão da RSC-453 reduziram o alcance das obras para sete acessos urbanos. Até o momento, a parceria entregou duas intervenções paliativas: sinaleiras no acesso a Monte Bérico e lombadas no São Ciro II.
Nem todos os 683 acidentes dos últimos dois anos ocorreram nos pontos listados pelo Daer, mas em quilômetros intermediários. Engenheiros, porém, admitem que rotatórias ou viadutos nos acessos reduziriam drasticamente essa assombrosa violência na rodovia.
Resta saber quantas vidas serão perdidas ou mutiladas até a solução definitiva.
COMPARE
Pelo menos 60% dos acidentes dos últimos dois anos e quatro meses em toda a Rota do Sol ocorreram em Caxias do Sul, entre o viaduto torto, no bairro Desvio Rizzo, e a entrada do Distrito de Vila Seca.
Período das ocorrências: de 1º de janeiro de 2013 a 12 de abril de 2015:
Tragédia anunciada
Mortes se repetem em pontos que aguardam melhorias na Rota do Sol, em Caxias
Mais da metade dos acidentes de toda a rodovia ocorre em trecho de 35 quilômetros
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