- Basta a Terra completar mais uma circunvolução, e comemoramos - diz a professora Walnice Nogueira, ironizando a obsessão atual com efemérides.
"Fica na memória para sempre", diz amiga de Anne Frank
Em meio a um festival de aniversários, jubileus e celebrações de tudo e de todos, a validade desse hábito depende da qualidade da reflexão que se engendra. Os 70 anos do fim da II Guerra Mundial não fogem à regra. Mas, pelo menos desde que Cláudia Laitano escreveu sobre o assunto em Zero Hora (zhora.co/claudialaitano), a ocasião está mais do que justificada.
Cláudia diz que o primeiro livro que lembra de ter pedido de presente foi O Diário de Anne Frank - provavelmente um dos cinco best-sellers mundiais sobre a II Guerra. Em seguida, afirma que foi a leitura de É Isto um Homem? e A Trégua, de Primo Levi, que lhe permitiu começar a entender o Holocausto. A II Guerra, diz Cláudia, é o "fato histórico incontornável" da cultura nos últimos 70 anos. E como não seria?
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É notável que O Diário e É Isto um Homem?, dois dos livros citados por Cláudia, tenham sido publicados no mesmo ano, 1947. Apesar de serem ambos memórias de guerra aparecidas quase no calor da hora, a recepção a cada um não poderia ser mais distinta.
Anne morreu aos 15 anos em Bergen-Belsen, mas seu relato ganhou corações e mentes e deu origem a uma infinidade de outras obras, museus e filmes. Levi sobreviveu a Auschwitz-Buna e foi testemunha participante do pós-guerra. Mais de um editor italiano rejeitou sua obra, e a primeira versão em inglês só apareceu em 1959. O mais perto que o cinema chegou de É Isto um Homem? foi a filmagem de uma peça adaptada da obra.
Se dois livros tão aparentados produziram efeitos tão diferentes, a explicação - arrisco - está na forma como a memória da II Guerra se modificou. E no que consistiu essa mudança? Volto ao assunto na próxima coluna.
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