Quando a lona do primeiro balão a levantar voo aparece no horizonte, sobre a silhueta dos prédios, a movimentação nas calçadas desacelera e o ritmo da cidade, cheia por causa do feriadão, se acalma. O movimento parece sincronizado: os pedestres sacam os celulares dos bolsos e alguns carros estacionam na transversal para que passageiros e motoristas desçam para admirar. Quem veio a Torres neste fim de semana, queria um registro. Não é todos os dias que a praia mais ao norte do Rio Grande do Sul recebe o maior evento de balonismo da América Latina.
O responsável pelo 27º Festival Internacional de Balonismo de Torres ainda é o mesmo homem que levou à segunda edição da Febanana, a festa local da banana, os primeiros balões de ar quente, em 1989. O franco-brasileiro Bruno Schwarz, radicado no Rio de Janeiro, passava pela cidade quando foi convidado a levar seus balões ao evento. Não esperava que o esporte que conheceu na França virasse a atração principal. Moradores e turistas se apaixonaram.
Se para o público o que importa é o colorido inusitado, para praticantes como Schwarz o balonismo é uma arte. Os detalhes, que podem não interessar a grande parte dos espectadores, fazem toda a diferença para os 40 competidores que se reúnem no Parque do Balonismo. A escolha das provas, divididas em cinco modalidades diferentes, depende de condições climáticas que são dispensáveis para os observadores. Afinal, qual é o problema se está batendo um ventinho em direção ao mar?
- Faz toda a diferença. Ventos fortes podem parecer inofensivos, mas tornam a aterrissagem perigosa. Imagina você ter que pousar a 30 quilômetros por hora no meio do mar? - diz Schwarz.
A segurança é um dos pontos principais da palestra que Schwarz dá aos pilotos antes de todas as provas. É o momento em que ele explica qual será a modalidade disputada. São cinco: Fly in, Fly on, Caça à raposa, Prova da chave e Valsa de hesitação. As regras são conhecidas por todos os pilotos, mas as punições são relembradas: deve-se manter uma distância mínima do mar, do helicóptero de resgate, dos prédios. Só pode chegar perto das bombas de gás se for para reabastecimento dos cilindros.
Cada cesto carrega quatro cilindros, e cada um deles dura, em média, 40 minutos. O suficiente para completar a primeira prova do festival. Depois de um dia de chuva, o céu aberto da manhã desta sexta-feira criou o ambiente perfeito para voo. O vento nordeste, no sentido do oceano, exigiu que a largada fosse distante do parque.
Após o anúncio da prova, uma carreata de caminhonetes partiu, com cestos, lonas nas caçambas, e equipes de pelo menos quatro pessoas dentro. Dos 40 balões que decolaram, apenas três conseguiram acertar os dois alvos da prova que misturou as modalidades Fly in e Fly on.
Para os pilotos, as subidas e descidas são para buscar o vento que os leva na direção certa, o que nem sempre é uma tarefa fácil. Para o público, os balões sobem e descem para entreter, como se dançassem no céu de Torres.
As provas
FLY IN
Após a decolagem de um local escolhido pela organização do evento, os pilotos devem jogar a marca, um saquinho de areia com a numeração do competidor, sobre um alvo, demarcado com um X em algum ponto da cidade também determinado pela direção da prova. A marca deve ser atirada (o piloto não pode aterrissar) o mais próximo possível do alvo.
FLY ON
Sempre começa em sequência de outra prova, o balão já deve estar no ar. Os pilotos devem seguir e pousar, ou atirar a marca, em um alvo determinado pela direção de voo. Em provas com Fly on, são somadas as pontuações de todos os alvos.
CAÇA À RAPOSA
Uma prova considerada tecnicamente mais fácil. Um balão decola e faz um percurso aleatório, os outros balões devem seguí-lo e tentar repetir o mesmo percurso. O piloto que conseguir pousar mais próximo do Balão Raposa em menos tempo, vence a prova.
PROVA DA CHAVE
Uma das provas mais difíceis. Um cone inflável é colocado na área reservada aos balões, com uma chave pendurada. Vence a prova, de voo livre, quem conseguir pegar o objeto primeiro.
VALSA DE HESITAÇÃO
Similar ao Fly in e Fly on, mas com alvos múltiplos. Uma prova de difícil realização em Torres, pois são necessários locais amplos e distantes uns dos outros.