Duas horas de pé, com os braços cruzados atrás das costas e as mãos em posição militar. Por todo esse tempo, a frente do caixão de Luiz Henrique da Silveira, no corredor de visitação, pertenceu somente ao ex-aluno do professor, que também foi senador, governador e prefeito. Laurilo Scremin, de 82 anos, reverenciou o mestre no silêncio de um adeus longo entre as 6h30 e as 8h30 desta segunda-feira, no Centreventos Cau Hansen em Joinville.
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Sem conter a tristeza que invadia os olhos, Scremin lembrou do curso de economia e de uma frase que o professor gostava de dizer.
- Hecha la lei, hecha la trampa - disse o aluno num espanhol traduzido por ele mesmo - Feita a lei, feita a burla.
Nem sempre ele votou em LHS. Mas com o tempo, o jovem político cresceu como articulador dos interesses catarinenses, fazendo despertar a admiração de Laurilo.
- Na juventude, era muito demagogo, mas no final foi um grande político - considera Scremin.
O aluno é também empresário e chegou a escrever uma carta de oito páginas para o então senador da República. O texto começa com a derrota do time de futebol brasileiro na Copa do Mundo. Um sete que só foi "a um" pela "cortesia" dos alemães, segundo o empresário. Naquela época, era esse o assunto do pronunciamento de LHS no Senado.
Antes de Laurilo chegar, Heloísa Walter de Oliveira estava lá. Aos 66 anos, ela é integrante da diretoria da Apae. Foi presidente da instituição por duas eleições internas e acompanhou o esforço de Luiz Henrique na construção da sede da associação por volta do ano 2004. Ela sempre o procurava para buscar melhorias estruturais.
- Era como se fosse um amigo - considera Oliveira, ao chorar e elogiar. - Joinville deu um salto de qualidade graças ao trabalho dele.
A morte repentina deixa lacunas. Do alto de seus nove anos, a bailarina do Bolshoi Camille Conradi vê os efeitos da falta de Luiz Henrique.
- E o que vai ser do Bolshoi quando passar o contrato? - questiona a menina, que entrou na escola neste ano.
Ela esteve no Centreventos bem cedo, acompanhada do pai, Paulo Conradi, e do irmão Pedro, de dez meses. LHS foi padrinho de batismo na escola de balé em Joinville. Para tranquilidade da meninas, o presidente do Bolshoi, Valdir Steglich, garante que as relações entre o governo de Joinville e o balé russo estão consolidadas. Steglich esteve na Rússia com LHS, em uma viagem na qual o senador era "felicidade" e "otimismo".
- A escola fica órfã. Mas cabe a cada um de nós fazer com que a escola seja o sonho de LHS - acredita o presidente do Bolshoi.
O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, chegou durante a manhã e garantiu que irá preencher a lacuna que agora toma conta da relação entre o governo do Estado e Joinville. O prefeito Udo Döhler lembrou da menina dos olhos do modelo de governo de LHS, a "descentralização", que começou a ser traçada na a época em que LHS foi prefeito - entre 1997 e 2002 - e até hoje continua a reverberar na política, na economia e na sociedade joinvilense.
Não faltaram autoridades de todo Brasil na despedida. Nesta manhã, foi a vez dos alunos e membros da Escola Bolshoi aplaudirem LHS, em palmas que ecoaram por dois minutos. Além do presidente do PMDB de Joinville, Cleonir Branco, que esteve ao lado de Cláudio da Silveira desde o raiar da segunda-feira, centenas de coroas de flores trouxeram um colorido à vida política que agora é luto.
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