"Me senti aliviada". Ouvi a frase de uma senhora no dia 16 de março, menos de 24 horas depois das manifestações que levaram centenas de milhares de pessoas às ruas do Brasil para protestar contra o governo.
Ela estava lá, um pingo no mar de gente. Sentia-se feliz por fazer parte daquele momento. Mas parecia saciada. Imagino que dormiu, acordou, pegou seu carro, passou o sinal vermelho, estacionou na faixa, jogou o papel de bala no chão, furou a fila, levou uma vantagenzinha aqui e outra ali. Feliz por ter gritado "Fora Dilma!".
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Quando ouvi a afirmação dessa senhora, pensei: deu. Ela foi uma vez e não vai mais. Foi só o desabafo. E ele foi feito. A gente tem um grito na garganta e de repente ele explode. Depois, vem o cansaço, o vazio.
Notei nas últimas semanas que o tom de voz do Brasil está mais baixo. A indignação contra o governo persiste, mas parece menos estridente.
Domingo haverá novas manifestações. Estão convocadas. Estou curioso para ver se serão maiores ou menores do que as anteriores.
Esse é o problema de ficar tanto tempo calado. Explode. E passa. Nossa relação com o país é de catarse. Melhor seria se diluíssemos o grito em palavras do dia a dia. As palavrinhas mágicas da cidadania: participação, ética, solidariedade, fiscalização e exemplo.
Não deveria ser preciso um escândalo na Petrobras para que olhássemos com tanta atenção para a maior empresa do Brasil. Democracia não se faz com sobressaltos, mas com constância. E constância é a melhor vacina contra os sobressaltos e os surtos.
Resta o consolo. Depois de tudo, vamos melhorar. Tenho certeza.
Não sei por quanto tempo, mas vamos?
Opinião
Tulio Milman: pela constância
Leia a coluna publicada neste sábado em ZH
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