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A situação humanitária em Áden, principal cidade do sul do Iêmen, é "catastrófica", alertou a Cruz Vermelha, que confirmou nesta terça-feira a chegada ao país de um primeiro avião com funcionários da área de saúde. Os combates prosseguem no país, principalmente no sul, entre os rebeldes xiitas, vinculados ao Irã, e as forças leais ao presidente Abd Rabbo Mansur Hadi, apoiadas pela Arábia Saudita.
- A situação humanitária no Iêmen é crítica com as rotas navais, aéreas e terrestres cortadas - afirmou a porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha no Iêmen, Marie Claire Feghali.
Ela recordou que o país importa 90% dos alimentos. Em Áden, a situação é "no mínimo catastrófica", disse, antes de completar:
- A guerra em Áden está em cada rua, em cada esquina. Muitos não podem fugir.
A Cruz Vermelha fez um apelo a uma trégua imediata para poder entregar ajuda e confirmou que na segunda-feira um primeiro avião com ajuda, incluindo médicos, pousou em Sanaa. A entidade espera que um avião pouse na quarta-feira em Sanaa com 16 toneladas de remédios carregados na Jordânia, explicou à AFP o porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha no Iêmen, Marie Claire Feghali, e uma segunda carga de 32 toneladas poderia chegar na quinta-feira.
A ajuda é aguardada com impaciência no país, onde "a situação é crítica", segundo a porta-voz da Cruz Vermelha. Pelo menos 540 pessoas morreram e 1,7 mil ficaram feridas em combates no Iêmen desde 19 de março, anunciou em Genebra a Organização Mundial da Saúde (OMS). O balanço vai até 6 de abril, afirmou o porta-voz Christian Lindmeier.
O porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Christophe Boulierac, afirmou que pelo menos 74 crianças faleceram e 44 ficaram feridas desde 26 de março, quando começou a ofensiva da coalizão árabe liderada pela Arábia Saudita para conter o avanço dos rebeldes xiitas no país. Mas a organização considera que o número de crianças mortas é muito mais elevado.
O Unicef calcula que um milhão de crianças estão impedidas de frequentar a escola no Iêmen em consequência da violência. Desde domingo, os combates no Iêmen, especialmente no sul, deixaram 159 mortos, 63 apenas em Áden, segundo um balanço da AFP com base em diversas fontes.
Os xiitas enfrentam os partidários do presidente Abd Rabbo Mansur Hadi, exilado na Arábia Saudita. O Iêmen é cenário de bombardeios diários da aviação da coalizão árabe que apoia Hadi.
Países do Golfo pedem reforço de sanções da ONU
Os países do Golfo Pérsico propuseram na noite desta terça ao Conselho de Segurança da ONU um projeto de resolução que impõe sanções ao chefe da milícia huthi e ao filho do ex-presidente iemenita Alí Abdullah Saleh. O projeto prevê ainda um embargo de armas e exige o abandono do poder e o fim imediato das hostilidades, de forma incondicional, por parte da milícia huthi e de seus aliados.
O texto traz uma lista de pessoas que devem ser sancionadas por seu papel na atual crise no Iêmen, encabeçada por Abdel Malek al-Huthi, líder das milícias xiitas, e por Ahmed Alí Abdullah Saleh, filho mais velho do ex-presidente iemenita. As sanções individuais consistem no congelamento de bens e na proibição de viagens. Dois comandantes huthis e o próprio ex-presidente Alí Abdullah Saleh já foram sancionados pela ONU.
Bloqueados em Áden
Os 800 mil habitantes de Áden estão bloqueados pelos combates e não têm condições sequer de fugir, segundo a Cruz Vermelha.
- Os corpos ficam abandonados nas rua e ninguém se atreve a retirá-los. A situação é ainda pior nos hospitais - lamentou Feghali.
O porta-voz do Unicef, Boulierac, afirmou que as crianças são "vítimas de armas diretamente ou de consequências indiretas deste conflito", já que a violência afeta as infraestruturas de saúde.
- As crianças deveriam receber proteção imediata - declarou Boulierac, que calcula em cem mil o número de pessoas deslocadas pela guerra no país.