O trecho que mais mata na BR-470 em todo o Vale do Itajaí fica em Pouso Redondo e foi cenário há 15 anos da segunda pior tragédia com ônibus em Santa Catarina. Declives, curvas sinuosas seguidas de retas e trânsito intenso de veículos de carga e de passeio fazem desta região perigosa. No caso do acidente que ocorreu no ano 2000 com o ônibus argentino da empresa Giménez Viajes, a imprudência foi a principal causa do desastre rodoviário. O Jornal de Santa Catarina voltou ontem ao local e encontrou um trecho mais seguro, com mureta de contenção, placas de velocidade máxima permitida e controladores de velocidade, mas que ainda exige muita atenção dos motoristas que trafegam por ele.
>>> Confira o especial BR-470: A Dor que os Números não Contam
>>> Motorista argentino está na lista da Interpol
>>> Relembre o acidente
Nos quase 30 quilômetros da rodovia federal em Pouso Redondo - do 165,6 ao 197 - 164 pessoas morreram entre os dias 1º de janeiro de 2005 e 31 de dezembro de 2014. A maior parte dos acidentes ocorre no Km 195. Para o chefe da 4ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Antônio Carlos Stanislau, os números são justificados pelo fato de que o trecho corta a cidade - com cruzamentos em desníveis da pista, excesso de pedestres e motociclistas -, mas principalmente pelas descidas acentuadas e pelo mau uso do freio:
- O tráfego é misto e muitos caminhoneiros descem usando o freio no pedal e não o motor, o que acaba provocando muitos tombamentos.
Em todo o trecho há placas de velocidade máxima permitida: 60 km/h e 40 km/h em curvas fechadas. Basta ficar observar por alguns minutos o vaivém de carros e caminhões para constatar que muitos não respeitam o limite de velocidade. No caso do acidente do ônibus argentino, o tacógrafo do veículo marcava 82 km/h.
- O acidente não se deu em nenhum momento por causa da pista, mas devido ao excesso do motorista. Não conhecia talvez bem o risco que tinha a serra - avalia o policial rodoviário federal Manoel Fernandes, que trabalhava no posto de Rio do Sul na época da fatalidade.
O motorista de Joaçaba João Batista de Souza percorre semanalmente a Serra da Santa e sabe que a pressa não combina com o trecho. Passou ontem por ali com uma carga de 32 toneladas, mas com o conhecimento de 15 anos de estrada:
- Tem que ter muita tranquilidade. Desço a serra a 30, 40 km/h. Se todo motorista fizesse a sua parte, não ocorreria tanto acidente.
Trecho passou por reparos desde o acidente
Fernandes explica que desde que a pista foi melhor sinalizada, que houve a construção de uma mureta no Km 195 e depois que controladores de velocidade foram instalados o número de acidentes com automóveis reduziu:
- A cada chuva sabíamos que acidentes ocorreriam com carros. Mas hoje é muito mais frequente caminhões tombarem. No fim do ano 2000 o Estado reforçou a sinalização, com a instalação de placas em português e espanhol e editou uma cartilha em espanhol enviada para as agências de viagens da Argentina para que fossem distribuídas aos turistas.
A reportagem entrou em contato com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), mas eles não deram retorno sobre o que mais foi feito no trecho e se há previsão de novos investimentos no local.
Tragédia no trânsito
Trecho de Pouso Redondo é o que mais mata em toda a BR-470
Serra da Santa foi cenário há 15 anos da segunda pior tragédia com ônibus em Santa Catarina
GZH faz parte do The Trust Project