A festa que causou polêmica em Santa Maria por ter sido programada para terça-feira, 27 de janeiro, data dos dois anos da tragédia na boate Kiss, começou devagar, quase parando, mas saiu. Organizado com o apoio de familiares de vítimas do incêndio, o evento no Muzeo Pub teve 300 confirmações no Facebook, mas, na prática, até a 1h45min desta quarta-feira, havia vendido cerca de 50 ingressos, segundo o proprietário, Marcelo Guidolin.
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A iniciativa provocou controvérsia na cidade e nas redes sociais desde que foi anunciada, no início do mês. Na época, Guidolin entrou em contato com a estudante Jéssica Rosado, 26 anos, para conversar. Irmã de Vinícius Rosado, morto no incêndio, Jéssica sobreviveu ao fogo e é uma das integrantes da associação Ah Muleke, criada em setembro de 2013 por parentes de quatro vítimas.
- Ele me perguntou se eu achava que a Muzeo deveria fechar em respeito aos mortos. Eu disse que, se eles fizessem uma festa diferente, envolvendo conscientização, a gente apoiaria. Foi o que aconteceu - relatou a sobrevivente.
A ideia, segundo Guidolin, "nunca foi fazer uma homenagem às 242 vítimas". Ele afirma ter sido mal interpretado.
- Distorceram tudo. O nosso objetivo sempre foi conscientizar os jovens para que só frequentem locais dentro da lei, sem correr riscos - destacou o empresário.
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O debate cresceu na internet. Apoiadores sustentaram que não havia nada de errado com a iniciativa e exaltaram a decisão do proprietário de doar 50% do valor arrecadado para duas entidades sociais do município. Quem criticou, levantou uma série de dúvidas e avaliou a proposta como de mau gosto.
Inicialmente, a festa estava marcada para começar às 23h30min de terça-feira. Apesar disso, só abriu depois da meia-noite, para evitar a associação com o dia 27. Balões brancos foram pendurados na entrada e, no começo, havia apenas um grupo de integrantes da associação, o proprietário e alguns amigos no local.
Na rua, um carro passou devagar por volta da meia-noite, e o motorista gritou:
- Que dia para fazer festa, hein, gurizada?
A reprimenda causou constrangimento. Ogier Rosado, pai de Jéssica e um dos líderes da Ah Muleke, estava na calçada e não gostou do que ouviu.
- As pessoas não entenderam a proposta. É uma pena. Eu aceito a crítica, só queria respeito - desabafou.
No interior da casa noturna, que exibe todos os alvarás em dia, para quem quiser ver, sobrou espaço. Entre os frequentadores, muitos eram jornalistas fazendo reportagens sobre o evento.
- A gente sabia que viria pouca gente por causa desse mal entendido todo. Não nos surpreendeu. E ainda teve gente que comprou as entradas só para ajudar as entidades carentes e que não vem - disse Guidolin, que passou a noite dando entrevistas.
Entre as pessoas que estavam no local para se divertir, uma delas era a estudante Alice Leandro, 26 anos, amiga de Jéssica e integrante da associação. Ela disse que fazia questão de apoiar a amiga.
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- Onde ela vai, eu vou. Além do mais, achei a proposta muito legal. Tem muita gente que vai a festas e não olha nem se tem saída de emergência. Queremos mudar isso - destacou Alice.
Também estavam no local a recepcionista Silvana Rocha, 36 anos, e a filha dela, Thaís, 16 anos. Elas decidiram comparecer porque um amigo estava de aniversário.
- Ele não tem culpa de ter nascido no mesmo dia da tragédia - ponderou Silvana.
Do lado de fora, exceto pela crítica do motorista, não houve maiores transtornos até a 1h45min. Não fossem os frequentadores vestidos de branco e os balões como decoração, poderia-se dizer que a balada era como outra qualquer.
*Zero Hora
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Apesar de 300 pessoas terem confirmado presença no Facebook, Muzeo Pub vendeu cerca de 50 ingressos até a 1h40min desta quarta-feira
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