O ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Miguel Rossetto, chamou de graves e localizadas as suspeitas de fraudes no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, o Pronaf, investigadas no Rio Grande do Sul. Na avaliação dele, que prestou esclarecimentos nesta quarta-feira (12) em audiência na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, não há nada que justifique a suspeição sobre o programa. O ministro apontou medidas tomadas pela pasta como o descredenciamento da Aspac, uma associação de pequenos agricultores de Santa Cruz do Sul apontava como executora da possível fraude, e o cancelamento de 500 mil declarações de aptidão (DAP) irregulares.
O ministro disse que as investigações da Polícia Federal estão sendo acompanhadas. "Rigor absoluto na apuração nessas denúncias, a cautela necessária, mas uma investigação profunda e rápida expedida desses temas para que nós possamos corrigir, eventualmente detectar as falhas do programa e corrigi-las, e evidentemente punir os responsáveis".
Um dos proponentes da audiência, deputado Luís Carlos Heinze (PP-RS), saiu insatisfeito, alegando que o ministro não respondeu aos questionamentos. A justificativa dele para a convocação de Rossetto é a gravidade dos fatos já apurados pela polícia, que teve a investigação comprometida pelo cancelamento de uma operação que seria realizada no RS. "Estranhamos porque essas entidades, Aspac, MPA, enfim, que poderiam ter sido identificadas e quem sabe seus computadores apreendidos e mais coisas virem à tona, essa investigação foi suspensa justamente na época da eleição. Mais informações teriam vindo à tona se as buscas e apreensões tivessem ocorrido na época oportuna".
Heinze chamou atenção ainda para as dez mortes por suicídio na região onde foi descoberta a fraude, que a PF apura se têm relação com os endividamento dos agricultores ligados à Aspac. Deputados da comissão irão a Santa Ccruz do Sul no próximo dia 28 para uma audiência com produtores, vereadores e outros envolvidos ou lesados pelo esquema fraudulento.
Citado em escutas telefônicas, o deputado federal Elvio Bohn Gass (PT-RS) teve arquivado pelo Supremo Tribunal Federal o inquérito que levantava suspeitas contra ele. O parlamentar reeleito afirma que é o maior interessado em saber a partir de onde foi apontado como beneficiado pela fraude. Alega que tinha relação com o vereador investigado Wilson Rabuske (PT) da mesma forma que com os cerca de 100 vereadores que o apoiam no RS. "Ele é um dos vereadores que me apoiaram e isso cada deputado se relaciona com os do seu partido, é normal. Sobre a suspeita, é claro que eu não sabia, porque se eu soubesse teria rompido esta relação".
O esquema investigado pela polícia pode ter desviado R$ 79 milhões ao lesar agricultores de Sinimbu e Santa Cruz do Sul, que usavam a Aspac para obter os financiamentos junto ao Banco do Brasil.