Para a maioria dos moradores da Vila Nazaré, na zona norte de Porto Alegre, não é escolha estar ali. Irregular há mais de 30 anos, a área recebe diariamente novos moradores que, em casebres pobres, dividem o espaço com animais e lixo. O lixo, aliás, é a fonte de subsistência de muitos. Trazido de diversas zonas da cidade, o material reciclado é separado e vendido. Como a vila não tem recolhimento regular de resíduos, o que sobra se acumula nas ruas estreitas. O que não fica no chão, vira alimento dos porcos.
Na tarde da última segunda-feira (06), os problemas de infraestrutura ficaram ainda mais evidentes. Um incêndio de grandes proporções atingiu um dos galpões de reciclagem e rapidamente se espalhou por outros três. As chamas pequenas cresceram por causa da dificuldade de acesso a água. “Quando percebi, já estava tarde e todo mundo tentou buscar água em todos os cantos, mas não tem. Ela chega por algumas horas e vem fraca.”, conta Alexandre Bernardino, que vive na comunidade há 20 anos.
Apesar da dificuldade de acesso e das péssimas condições de moradia e higiene, Alexandre resiste na ocupação. Junto a outras 1.291 famílias, o reciclador espera pela construção do novo loteamento prometido pela prefeitura de Porto Alegre. A Vila Nazaré dará lugar à área ampliada do Aeroporto Salgado Filho. Apesar do cadastro dos moradores ter sido feito em 2009, as obras começaram efetivamente três anos depois.
A ordem de início para o assentamento das mais de 1,2 mil famílias da Vila Nazaré foi assinada em abril de 2012. A previsão de entrega das primeiras casas era dezembro de 2013. Para construir a nova comunidade, foram desapropriadas duas áreas (nas Ruas Senhor do Bonfim, 55 e Irmãos Maristas, 400), nos Bairros Sarandi e Mario Quintana, respectivamente. O trabalho, no entanto, atrasou. O novo prazo do Departamento Municipal de Habitação (Demhab) é final de 2014.
Enquanto as obras não ficam prontas, os moradores da Vila Nazaré, resistem sem condições básicas.“Nós vivemos numa situação de caos. Não tem água, não tem luz, não tem esgoto. A prefeitura promete remoção todos os anos e, nesse meio tempo, estamos desassistidos.”, conta a presidente da Associação de Moradores da Vila Nazaré, Maria Madalena Wergutz do Nascimento.
O diretor do Demhab justifica o atraso com a falta de interesse por parte das construtoras em tocarem os empreendimentos. “Fizemos diversos chamamentos, mas o boom imobiliário fez com que muitas empresas desistissem por causa do valor das obras. Isso atrasou o início”, afirma o diretor-geral do departamento Everton Luis Gomes Braz.
Nesse ano, segundo a prefeitura, os dois loteamentos devem ser entregues aos moradores. O primeiro deles, na Rua Senhor do Bom Fim, no Bairro Sarandi, está com a pavimentação, rede de esgotos e iluminação prontos. As primeiras, das 362 unidades habitacionais, começam a ser construídas nos próximos meses. O segundo empreendimento, na Rua Irmãos Maristas, no Bairro Mário Quintana, está mais atrasado. A construtora contratada tem 40 dias para começar as obras e promete entregar os apartamentos em até 18 meses.
Uma espécie de “recadastro” dos moradores será feito até a metade do ano pela prefeitura, para saber quantos deles têm direito às unidades habitacionais. Após o cadastramento de 2009, muitas famílias buscaram a Vila Nazaré na esperança de conseguirem moradia através do programa Minha Casa, Minha Vida. O Dmhab garante que as famílias que estão na ocupação e não fazem parte da listagem terão direito a aluguel social no momento da desocupação.