No início da noite de 17 de junho, eu assistia ainda da redação imagens históricas na televisão de centenas de jovens ocupando o teto do Congresso Nacional. Na redação, todos estavam vidrados naquelas cenas e relatos de ruas e avenidas tomadas no Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo. Em Porto Alegre, sabíamos que centenas de manifestantes se concentravam em frente à prefeitura e iniciavam uma marcha. O grupo seguiu, então, um roteiro inédito pelas ruas da Capital e decidi, neste momento, adiar o fim do horário de expediente e conferir na Avenida Ipiranga a marcha das milhares de pessoas.
Chamou-me a atenção a quantidade de policiais destacados, que marchavam em duas linhas através da Ipiranga em direção à Avenida João Pessoa. Os agentes com quem conversava não passavam informações sobre qual seria o procedimento. Os oficiais pareciam surpresos. A estimativa era de 10 mil manifestantes, um número inédito nas manifestações que vinham ocorrendo na Capital.
“ Vi pessoas que queriam seguir em frente, mas não pareciam dispostas ao confronto, vi vândalos que correram para destruir estabelecimentos comerciais e outros tantos que decidiram simplesmente ir embora”
De um talude do Arroio Dilúvio, posicionado entre os manifestantes e a Brigada Militar, percebi quando os policiais começaram a gritar para as milhares de pessoas que seguiam em direção à Avenida Erico Veríssimo recuarem, o que não foi obedecido. Vi alguns manifestantes que seguiam à frente da marcha se ajoelharem. Mas a Brigada Militar decidiu, uma vez rompido um limite imaginário, lançar bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral. O lado contrário também respondeu com pedras. A marcha uniforme se dividiu.
Vi pessoas que queriam seguir em frente, mas não pareciam dispostas ao confronto, vi vândalos que correram para destruir estabelecimentos comerciais e outros tantos que decidiram simplesmente ir embora. Já próximo das 2h da madrugada do dia 18, o trabalho ainda não havia encerrado. Eu era o único repórter presente no posto da Brigada Militar para onde haviam sido encaminhados os manifestantes presos. Pelo local, passaram o secretário estadual da Segurança e o comandante geral da Brigada Militar, mas ambos se recusaram a dar maiores informações. Os detalhes ficaram para uma coletiva de imprensa marcada para a tarde.
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