Já são quatro dias de ocupação da reitoria da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) por alunos. A manifestação ainda não terminou, mas já deixou em evidência uma luta interna: o estopim da briga foi a adesão ou não à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
Na prática, assinar o convênio com essa empresa significa construir um hospital universitário novo com 360 leitos para um milhão de pessoas.
Ambos os lados são favoráveis à construção do Hospital Universitário Regional, mas o governo federal sinaliza que para abri-lo será necessário firmar contrato com a recém criada Ebserh. E é aí que começam os conflitos. Os contrários à empresa pública, de investimento privado, afirmam que a universidade perderá autonomia de decisão, já que a direção do novo hospital ficará a cargo da empresa e caberá à universidade apenas indicar um nome para a mesa. Já os favoráveis, como é o caso do reitor da UFPel, Mauro Del Pino, contestam dizendo que não é a melhor solução, mas a única porta de entrada para investimentos federais.
- É uma chantagem do Ministério da Educação: só aceita dar dinheiro se assinar o convênio - critica a presidente da Associação dos Docentes da UFPel, Celeste dos Santos Pereira.
A Associação dos Municípios da Zona Sul (Azonasul), que reúne 22 prefeitos da região, emitiu nota clamando para que o contrato fosse assinado, e a região não perdesse a chance de sanar o déficit histórico de vagas no Sistema Único de Saúde.
A questão era discutida pelo Movimento Reconstrução, anteriormente composto por 120 pessoas que formaram base eleitoral para a campanha e gestão do reitor Del Pino.
As cerca de 90 pessoas do movimento que ocupam a reitoria acreditam que a decisão de adesão à Ebserh deveria ser tomada pela comunidade. O restante acredita que deveriam haver debates, mas um grupo seleto deveria decidir: o Conselho Superior da UFPel, formado por conselheiros das unidades acadêmicas, docentes, estudantes e membros da comunidade externa.
O protesto segue com a entrega de um termo de compromisso, formulado pelos manifestantes, para que Del Pino se comprometa a ser mais aberto às reivindições estudantis.
E-mail do reitor motivou protesto
O estopim da briga que rachou o grupo foi um e-mail enviado por engano por Del Pino para todo o movimento, mas que deveria ir para o grupo que defendia uma decisão tomada pelo Conselho Superior da UFPel. Nele, afirma: "Nossa estratégia de deixar para depois a questão da Ebserh falhou".
As palavras foram a gota dágua para uma série de insatisfações que as 90 pessoas do movimento sentiam, incluídos quatro dos oito pró-reitores. As principais reclamações não passavam pela Ebserh, mas cobrança de maior transparência e diálogo na gestão e, principalmente, críticas ao pró-reitor de planejamento, Luiz Osório, a quem era pedida a exoneração.
- Temos duas pessoas em greve de fome, e outras podem aderir por causa da decisão autoritária do reitor de não permitir a entrega de marmitas na sala dele, onde estamos acampados - comentou Rubens Barbosa Leal, estudante de geoprocessamento, que faz greve de fome desde segunda-feira.