Apressadinha parece mesmo um adjetivo adequado para se atribuir a Joana Oliboni Machado.
A menina nasceu antes da hora em 2010, quando figurou em reportagens publicadas no caderno Meu Filho, sobre o nascimento prematuro de um bebê. Embora intitulada "Apressadinhos", no plural, a série tinha Joana como única personagem.
Pulando a parte da cerimônia, Joana recepcionou a reportagem de Zero Hora no portão de sua casa, em Farroupilha, na Serra, com sorriso aberto e muita disposição para conversa.
- Vem ver a cebolinha que eu plantei - disparou, de saída, conduzindo esta repórter pela mão até o canteiro, nos fundos do quintal. - Quando crescer vai ter um monte de moranguinhos - promete.
Tudo se transforma na mente criativa de Joana: onde ela planta cebolinha, nascem morangos. A caixa de brita pode ser uma piscina. Um espelho portátil e um pedaço de algodão viram um kit completo de maquiagem. E por aí vai.
O que não muda é o amor da mãe, Cláudia Oliboni, 42 anos, que colhe agora o que plantou nos primeiros 43 dias de vida de Joana, nascida com 29 semanas de gestação, 38 centímetros de comprimento e peso de 1,29 quilo. Entre um punhado e outro de terra que a menina joga sobre a semente no canteiro, brota um "te amo, mãe" tão espontâneo que chega a comover. O carinho soa, para Cláudia, como recompensa por nunca perder a esperança.
- A gente olha para o presente e pensa que a Joana é uma bênção. A lição que fica é que nunca se pode perder a fé - ensina.
Com a menina por perto, também não dá para perder a disposição, porque ela mostra pressa para mudar de brincadeira. Em pouco mais de duas horas de visita, ela plantou, fez bolo de manteiga com cereja no forno de brinquedo, serviu café e suco aos convidados, cantou o alfabeto, falou sobre seu relacionamento (em crise) com a Barbie - porque prefere o príncipe -, almoçou cenoura, beterraba e "bócolis", apostou corrida com o pai, escondeu-se do inimigo debaixo do cobertor e, depois de tudo isso, conta, foi salva pelo Batman.
O Batman era o pai, Ademir Machado, 38 anos. Trabalhador da construção civil em Porto Alegre, passa a semana na casa dos pais, em Bom Princípio, no Vale do Caí. Só tem o fim de semana com a filha.
Três anos depois do nascimento, só mesmo pequenos acidentes domésticos exigem uma visita ao médico. Logo que Joana saiu da UTI, qualquer febre preocupava. O medo de ter de enfrentar dias a fio no hospital outra vez motivou cuidados redobrados nos primeiros seis meses, mas o nascimento não deixou sequelas.
- Agora ela fala, caminha, diz o que está bom e o que não está. Ela está na melhor fase - considera Cláudia.
A mãe só não conseguiu ainda deixar a filha na escolinha, porque acha que se sentiria culpada por ter de se despedir. Para se acostumar, Cláudia voltou a trabalhar fora de casa em 2012 - e Joana ainda dorme quando a mãe sai. Quem toma conta é a avó, Marta Oliboni, 67 anos. À tarde, uma babá assume a função.
Só à noite é que mãe e filha voltam a se ver. E cada reencontro vem acompanhado de um pequeno gesto de amor, que pode até ser uma canção entoada na voz de Joana: "Amo você! Você me ama! Somos uma família feliz".
Reveja a matéria publicada em 2010:
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