"É uma experiência de vida"
O professor de Educação Física Cristiano Candiota Porcher, 37 anos, é figurinha carimbada na biblioteca Josué Guimarães, de Porto Alegre. Nos últimos três anos, tomou emprestados 485 itens, entre livros, CDs e DVDs. Ele é sócio há 18 anos, mas foi depois da formatura, em 2006, que tornou-se assíduo entre as estantes. Beneficiado por um privilégio raro - o de ter uma biblioteca pública ao pé de casa -, comparece ao local pelo menos uma vez por semana.
- De vez em quando estou em casa, comendo mosca, e aproveito para dar um pulo ali e saber o que há à disposição - conta.
Nessas incursões, fez várias descobertas marcantes, como um disco de sambas-enredo do Carnaval porto-alegrense, o filme O Sol da Meia-Noite e as obras de Camus, Kafka e Italo Calvino. Apesar de ser reconhecido na biblioteca como um usuário pesado - e de além disso ter o costume de comprar livros e discos -, Porcher encara a si mesmo com modéstia.
- Até acho que não leio muito - diz.
O que ele não diminui é a importância que a instituição desempenha:
- A biblioteca não é só um passatempo, é uma experiência de vida - explica.
"Se fosse comprar, o custo seria alto"
A professora aposentada Vera Maria Bortolini, 62 anos, doou à Biblioteca Pública do Estado os livros que acumulou ao longo da vida. Agora, lê os volumes que toma de empréstimo no estabelecimento.
A moradora do Centro associou-se há mais de uma década, quando a aposentadoria ofereceu-lhe largas horas de tempo livre para a leitura. Desde então, tornou-se um dos usuários mais assíduos da casa. Leu tantos títulos que, na hora da escolha, precisa olhar a ficha da última página para conferir se não está levando alguma obra pela segunda vez.
- Já estou com dificuldade para encontrar livros novos. Pego três a cada 15 dias. Em geral, consigo terminar a leitura no prazo. Quando começo a chegar nas últimas páginas, já fico ansiosa, programando a ida a biblioteca para pegar outro. Virou um hábito.
A aposentada utiliza a biblioteca pública por ser uma forma de ler muito sem desembolsar nada.
- Eu leio todos os dias. Se fosse comprar, o custo seria alto.
"Estudar aqui é minha estratégia"
O negociador de veículos Sandro Corrêa, 42 anos, trabalha no centro de Porto Alegre, de segunda a sábado, das 8h às 14h. Terminado o expediente, ele caminha até a Casa de Cultura Mario Quintana e se acomoda a uma das mesas da biblioteca Erico Verissimo. Não sai dali até as 19h.
Corrêa não mantém contato com os livros do acervo. Como outros frequentadores diários, ele vai à biblioteca para estudar. Está em preparação para um concurso do Banco do Brasil.
- Só deixo de vir na segunda-feira, porque a Casa de Cultura não abre. Estudar aqui é uma estratégia minha. Se for para casa, sei que não estudo. Tem TV, internet, Facebook. Na biblioteca, me obrigo a estudar.
A biblioteca também serve, no meio da tarde, de espaço para um lanche (barra de cereal e guaraná cerebral) e um cochilo (meia hora, programada no despertador).
- Cada vez mais gente vem à biblioteca. Hoje, quando cheguei, já não havia mesa disponível. Mas ninguém pega livro. As pessoas vêm para estudar ou usar a internet - contou, em uma tarde recente.
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Itamar Melo - de Capão da Canoa
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