Análises laboratoriais realizadas gratuitamente na Universidade Feevale estão auxiliando no tratamento das vítimas do incêndio de Santa Maria. A metodologia, pioneira no Brasil, identifica os níveis de cianeto no sangue dos pacientes. Através dessa análise, os médicos podem prescrever o tratamento mais indicado aos feridos.
Absorvido na forma de ácido cianídrico, o cianeto é formado na queima de diversos materiais sintéticos. Ele é rapidamente ingerido pelas vítimas pela via respiratória e impede a respiração celular através da inibição de mecanismos bioquímicos fundamentais para a sobrevivência das células.
Além de apontar o melhor tratamento, as análises ajudam a explicar o que aconteceu com os mortos na tragédia. Profissionais que trabalham no local, e que estavam em férias, foram mobilizados para ajudar nos testes. Até o momento foram concluídas cerca de 50 análises a partir de amostras vindas de Santa Maria e Porto Alegre, e outras 30 serão feitas. Os resultados são enviados pela internet para os hospitais.
A metodologia usada no Laboratório de Análises Toxicológicas da Universidade Feevale foi desenvolvida inicialmente no Instituto de Medicina Forense de Berlim, na Alemanha. Segundo o coordenador do laboratório, professor Rafael Linden, doutor em Biologia Celular e Molecular, o teste é bastante incomum, e não há informações de outro laboratório brasileiro que o faça.
- Normalmente o teste é realizado no contexto da toxicologia forense, para avaliar casos fatais. Institutos de medicina forense da Europa e dos Estados Unidos realizam rotineiramente este teste em vítimas fatais de incêndios - explica.
Para o médico intensivista e pneumologista Sérgio Baldisserotto, diretor clínico e coordenador técnico da UTI do Hospital São Francisco de Assis, de Santa Maria, os dados fornecidos pelo laboratório de Novo Hamburgo têm sido decisivos tanto para o manejo terapêutico dos pacientes mais graves internados nas UTIs, como para a obtenção do antídoto administrado aos pacientes e para uma explicação científica para o elevado número de óbitos ocorridos.
Teste deve auxiliar no socorro imediato de vítimas de incêndios
As amostras de sangue dos pacientes feridos em Santa Maria foram analisadas cerca de 80 horas depois do incêndio. Um dos objetivos da laboratório da Feevale é tornar mais ágil essa análise, e contribuir para que o antídoto à intoxicação aguda por cianeto seja disponibilizado, futuramente, diretamente às equipes de resgate e atendimento a vítimas de incêndios.
Na avaliação do pneumologista Sérgio Baldisserotto, quando as equipes de resgate de feridos em incêndios tiverem condições de administrar o antídoto à intoxicação aguda por cianeto mais vidas serão salvas.
- Quem sabe quantas vidas poderão ser poupadas no futuro em função disto? Esperamos que muitas. A contribuição da Feevale, que demonstrou que os níveis de cianeto se encontravam muito elevados, mesmo 80 horas depois do evento inicial, tem influenciado de forma marcante no manejo das manifestações neurológicas tardias de intoxicação por cianeto que observamos em alguns pacientes - afirma.
Saiba mais:
O professor Rafael Linden explica que o cianeto, na forma de ácido cianídrico, é formado na queima de diversos materiais sintéticos.
O medicamento utilizado para combater os efeitos causados pelo gás cianeto é a hidroxicobalamina, derivado da vitamina B12, que se liga ao cianeto formando cianocobalamina, a qual possui baixa toxicidade. O princípio do tratamento é retirar o cianeto da circulação.
Entre os efeitos da intoxicação incluem-se falência cardiorrespiratória, coma, acidose metabólica severa, convulsões e depressão do sistema nervoso central.
Auxílio local
Laboratório de Novo Hamburgo ajuda no tratamento das vítimas de Santa Maria
Universidade Feevale analisa amostras de sangue dos pacientes expostos ao ácido cianídrico através de teste incomum no Brasil
GZH faz parte do The Trust Project