Catarino Brum Pereira combina o apelido e o ofício à perfeição. Tio Cata é papeleiro e monta numa carroça puxada por Raio X - batismo que contemplou o aspecto descarnado do lombo quando o cavalo foi resgatado do abandono - para catar material reciclável pelas ruas de Gravataí. Resiste a chamar de lixo as sobras que garantem o sustento da mulher, dos três filhos e do enteado, trocadas por dinheiro ou transformadas em móveis da casa erguida com retalhos de madeira sem muita simetria. Conformaria-se como mais uma criatura anônima, não fosse a convicção de que carrega outra sina. O animal arrasta uma carga de papelão, alumínio e plástico e também livros a R$ 10, a brancura das páginas contrastando com a imundície do entorno. Tio Cata empenhou uma soma que não tinha para consertar uma incorreção. Cansou de ver a primogênita, Gabriela, nove anos, deixar a escola moída pela chacota dos colegas.
Histórias de Natal
Tio Cata tira versos do lixo
Incapaz de se conformar com o sofrimento da primogênita de nove anos, alvejada pela chacota dos colegas que riam da "filha de papeleiro", Catarino Brum Pereira, 62 anos, empenhou uma soma que não tinha para consertar uma incorreção
Larissa Roso
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