Durante o Natal, pus-me a pensar no nascimento de Jesus.
O único registro hoteleiro constante na Bíblia é o de que José e Maria foram recusados na hospedaria da cidade de Belém por estarem lotados os aposentos.
Então, como era urgente o parto, José levou Maria para um estábulo, onde veio à luz o Rei dos Reis, certamente nascido num monte de feno e, segundo a Bíblia, foi enrolado em faixas e posto numa manjedoura.
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Esta hospedaria lotada com certeza entrou na história para que Jesus tivesse um nascimento pobre, o mais pobre dos nascimentos porque sobreveio em meio aos animais. É intrigante que Deus viesse encarnado à Terra e não nascesse entre os homens, mas entre os animais.
O que me deixa encucado é que entre as centenas de famílias que residiam em Belém, se uma só delas tivesse sabido que estava na cidade um casal de moradores de rua, sem nenhuma hospedagem, que estava trazendo para o mundo o seu salvador, logo abriria sua casa para o hóspede divino.
Mas tinha que ser assim. Jesus, na sua obsessiva vocação para amparar os mais pobres, precisava ter nascido como um sem-teto, para que através dos milênios se transmitisse a mensagem de que ninguém foi mais pobre do que Jesus, seu berço era uma manjedoura onde comiam os animais mamíferos.
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Há algumas versões, salientadas pelo narrador da Missa do Galo, anteontem, de que Jesus nasceu em Nazaré e não em Belém.
O que é certo é que Jesus viveu depois a infância e a adolescência em Nazaré, tanto que é chamado de Nazareno. Mas será que assim não é chamado por ter nascido em Nazaré?
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Não se sabe muito - ou nada - na Bíblia sobre a infância de Jesus.
Volto à hospedaria lotada e ao refúgio apressado no presépio. Tinha que estar lotada pelo destino a hospedaria. Se não estivesse lotada, sobraria a imagem de que Jesus teria nascido em um hotel de cinco estrelas, isto é, já em meio ao fausto e à riqueza.
Assim foi muito melhor, Jesus nasceu em um paupérrimo hotel de uma estrela, a Estrela de Belém.
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Estava tudo escrito, que José transportaria Maria, grávida, num jumento, sob o sol escaldante do deserto.
Estava escrito que aquele menino e depois jovem de cabelos loiros entraria em Jerusalém no Domingo de Ramos, sob aclamação das calçadas e das janelas, pregaria na cidade e nos campos o amor, o perdão, a pobreza e a salvação das almas.
Estava escrito que ele seria traído por Judas, julgado sob Pilatos, crucificado com dores lancinantes, morto e sepultado, tendo ressurgido e escrito o capítulo mais estupendo da história, o de um homem que indicou a toda a humanidade o caminho do bem no rumo da salvação.
Tudo estava escrito. Só não compreende quem não leu.
Opinião
Paulo Sant'Ana: "Hospedaria sem vagas"
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