A falta de condições adequadas no atendimento aos gêmeos recém-nascidos em Canguçu, segundo o Conselho Regional de Medicina (Cremers), agravou o estado de saúde dos bebês. O drama, que comoveu o Estado, persiste.
Internados em estado grave na UTI neonatal da Santa Casa de Caridade de Bagé, até a noite desta quarta-feira, os irmãos que receberam atendimento em uma emergência improvisada no Sul são mantidos em área isolada e com visitas restritas.
O coordenador de ouvidoria do Cremers, o médico pediatra e neonatologista Ercio Amaro de Oliveira Filho, explica que a falta do atendimento adequado fez as chances de vida dos bebês caírem de 30% - que é esperado para prematuros com o mesmo peso e tempo de gestação encaminhados para UTI neonatal - para poucas horas do nascimento.
Além disso, ele diz que a distância percorrida até Bagé pode ter agravado o estado de saúde dos meninos, pois o transporte deveria ter sido feito por um helicóptero equipado com UTI, e não por uma ambulância.
- Estatisticamente, esses meninos não teriam sobrevivido. Eles nasceram com 26 semanas de gestação, somente quatro a mais do que nós consideramos como uma gestação não viável. Se tivessem nascido em condições adequadas estariam em estado grave, da maneira que foi não é esperado que estejam com mais saúde -afirma.
O secretário estadual da Saúde, Ciro Simoni, afirma que o transporte dos bebês foi adequado, em ambulância com UTI neonatal, e seguiu o padrão adotado em outros casos de emergência. Segundo ele, a distância não era tão grande a ponto de ser necessário usar um helicóptero.
Quanto à estrutura de atendimento, o secretário observa que o hospital de Canguçu dispõe dos equipamentos exigidos para atender as crianças. O problema é a falta de equipe médica para garantir o funcionamento dos 10 leitos da UTI neonatal, o que resultou na interdição da unidade.
Com a mãe distante, que ainda se recupera do parto, os meninos Alerrandro e Aleksandro ganharam pela primeira vez o carinho do pai Rafael Moreira, 25 anos. Foram permitidos três encontros, um em cada turno. O pai foi o único da família que conseguiu acompanhar os filhos até Bagé.
Entenda o caso
- A doméstica Andrizi Quevedo, 25 anos, deu entrada no Hospital de Caridade de Canguçu 10 dias antes do nascimento dos bebês, quando se iniciou a peregrinação por leito em instituições de saúde equipadas com UTI neonatal.
- Na tentativa de salvar os meninos, cada um com 600 gramas, o médico responsável pela pediatria do hospital de Canguçu, Benhur Batista, improvisou uma estrutura de emergência na recepção da ala dos recém-nascidos.
- Eles nasceram às 22h30min de segunda-feira, porém a Central de Regulação de Leitos do Estado informou que só poderiam ser encaminhados ao hospital de Bagé às 8h do dia seguinte. Surgia outro problema: não havia UTI móvel para o transporte.
- Somente por volta das 13h30min de terça-feira uma ambulância deixou Santana do Livramento, na Fronteira Oeste, para fazer o resgate em Canguçu - uma viagem de mais de 400 quilômetros. Até Bagé, foram mais três horas de viagem. Eles chegaram às 22h30min, quando completavam um dia de vida, para enfim receberem o atendimento adequado.
Saúde em risco
Cremers critica atendimento improvisado a gêmeos em Canguçu
Para Conselho, helicóptero deveria ter sido usado para transportar os bebês até Bagé
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