Decidida a aproximar a sala de aula tradicional das pesquisas desenvolvidas na universidade, Geiseane Rubi, 25 anos, divide seus dias em diferentes atividades. Formada em Matemática - Licenciatura pela Unisinos em março do ano passado, ela faz mestrado na PUCRS, dá aulas no Ensino Fundamental e, ainda, participa de um projeto de pesquisa.
- Gosto de pesquisar, mas decidi dar aulas para ter mais experiência e conhecer a realidade das escolas. Estou adorando - conta.
A seleção do mestrado ela fez ainda no último semestre da faculdade e, logo depois, começou a distribuir currículos em escolas. Na pós-graduação, a professora estuda formas de ensinar matemática a partir de dois games de computador - o The Sims e o Transforme-se. O projeto de pesquisa em que atua na Unisinos também relaciona técnicas de ensino e tecnologia, a partir de um software que auxilia o aprendizado da matemática.
Nos próximos anos, Geiseane tem o desafio de ensinar matemática de forma mais leve e prática, sem deixar de lado a pesquisa de novos métodos.
Confira a trajetória dessa professora e pesquisadora:
A escolha da profissão
Quando terminei a escola, não sabia direito que curso gostaria de fazer. Então, fiz um ano de cursinho para decidir, onde era monitora. Sempre gostei de matemática, mas dizia que não queria ser professora por medo de ganhar pouco. Com o tempo, comecei a conviver com alguns professores que davam aula no cursinho, e a minha ideia mudou. Eles diziam que existia a possibilidade de se viver bem. Acabei prestando vestibular apenas na Unisinos para Matemática - Licenciatura, porque tinha me inscrito para Química na UFRGS, quando ainda estava em dúvida. Em 2006, comecei a fazer o curso na Unisinos, com poucas cadeiras, para conhecer e decidir se queria mesmo isso.
Pesquisa na graduação
Entre 2006 e 2008, o único contato que tive com salas de aula foi nas observações que fazíamos para a faculdade. E eu me interessava por aquilo. Ao mesmo tempo, cursei Metodologia de Pesquisa e passei a achar interessante a área. No quarto semestre, comecei a ser bolsista de iniciação científica no Programa de Pós-Graduação da Ciência da Computação da Unisinos. O grupo estava desenvolvendo um software que utiliza técnicas de inteligência artificial para auxiliar na resolução de equações ensinadas na 6ª, na 7ª e na 8ª séries. Eles precisavam de um elo com a sala de aula e métodos de ensino. Com a bolsa, meu contato com as escolas aumentou muito, antes mesmo dos estágios curriculares obrigatórios. Eu fazia entrevistas com professores e alunos, além de testar o software.
Em busca de aulas diferentes
Meu trabalho de conclusão de curso fala do software que pesquisei, pois desenvolvi estratégias e táticas de ensino para ele ser utilizado nas escolas. Com esse projeto, comecei a levar um diferencial para os alunos. Quando fiz os estágios obrigatórios, utilizei a tecnologia e vi que os alunos gostavam disso. Hoje há muita falta de interesse na sala de aula, mas, quando se aborda um conteúdo de uma forma diferente, isso muda. Foi quando comecei a me encontrar como professora, era isso que eu buscava.
Sempre fui extrovertida e brincalhona, então acreditava que aquele modelo de professor rígido e tradicional fugiria do meu perfil. E isso me preocupava, eu pensava que não teria domínio de turma.
Quando era aluna, não gostava dessa reprodução em série da matemática, quando o aluno repete várias vezes o mesmo exercício, mas não sabe colocar nada em prática. Por isso, hoje busco fazer bastante atividade prática, ligada ao dia a dia.
Aproximando pesquisa e dia a dia
Fiz um estágio de dois anos na Prefeitura de Porto Alegre, em um projeto chamado Compartilhar, que dá aulas para servidores públicos que não concluíram o Ensino Médio. Eu gostava bastante, mas chegou o final do curso e me dei conta de que a minha única experiência em escola tradicional tinha sido os dois estágios obrigatórios. E estágio é diferente, os alunos sabem que é por pouco tempo e já te esperam de outra forma. Por isso, no último semestre, decidi que, além de tentar entrar no mestrado, para continuar pesquisando, queria dar aula. Não acho bom desvencilhar o mundo da escola da pesquisa acadêmica, porque fica tudo fica muito separado e as pesquisas acabam distantes da realidade. Nas universidades, muitos afirmam que o dia a dia das salas de aula impede os professores de usar novas técnicas de ensino, por exemplo. Então, fui buscar trabalhar em escola para tirar as minhas próprias conclusões sobre isso.
Vida depois de formada
Me inscrevi na seleção do mestrado antes mesmo de me formar, no final de 2010. Ao mesmo tempo, comecei a distribuir currículos em escolas. Em fevereiro de 2011, soube que tinha passado no mestrado e, na mesma semana, me chamaram para fazer seleção em uma escola privada. Lecionei durante um ano nesta escola, três vezes por semana. No final do ano, decidi completar os horários e acabei assumindo cinco turmas no Instituto Maria Auxiliadora, onde dou aulas do 6º ano à 8ª série.
Planejando o próximo ano
Termino o mestrado este ano e já estou planejando entrar no doutorado, quero fazer seleção na UFRGS. O meu objetivo é ser professora-pesquisadora, trabalhando a minha linha de pesquisa, mas sem me desvincular da escola. Gosto de dar aulas e também não quero que a pesquisa fique desvinculada da vida real. Tem muita coisa boa sendo feita nas universidades que não é aproveitada pelo distanciamento com realidade escolar. Acredito que o ideal é estabelecer um meio-termo entre o mundo da pesquisa e o da escola. É disso que o país precisa. Não vai mudar o mundo, mas já é uma parte.
Rotina atribulada
Mesmo trabalhando e fazendo mestrado, sigo como voluntária no projeto da Unisinos que desenvolve um software para auxiliar no ensino de equações. Todas as manhãs, estou na escola e, nas tardes, intercalo as aulas do mestrado, as reuniões com a minha orientadora e o projeto do software. É corrido, mas gosto. Além disso, como busco ter vários instrumentos de avaliação, relatórios, teste, trabalho e jogos, tenho bastante material para corrigir em casa. Acabo trabalhando em alguns finais de semana para dar conta do mestrado e tudo mais. Mas é isso que me satisfaz como profissional.