A maconha continua sendo a droga mais popular, mas o crack é o responsável pela marca mais preocupante nas estatísticas sobre entorpecentes no Estado. Apreensões da pedra são as que mais crescem no Estado nos últimos cinco anos. Em média, são retiradas de circulação 730 gramas de crack por dia, em 2012, o equivalente a 78% a mais do que a média diária em 2008.
O dado faz parte de um levantamento do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), no qual também inclui apreensões efetuadas pela Brigada Militar.
Considerando que a estatística é uma amostra do mercado dos entorpecentes, é possível dizer que mais apreensões significam que há mais oferta de pedras em circulação. Do "inexpressivo" um quilo apreendido em Farroupilha, na Serra, em 2000, fato raro para a época, a quantidade de pedras recolhidas no Estado vem aumentando em progressão geométrica.
Em 2010, por exemplo, foram retirados das ruas 275,2 quilos de crack, o maior volume da década. Nos primeiros quatro meses deste ano, a soma é de 87,7 quilos. Se for mantida a média, as apreensões em 2012 chegarão bem perto da marca histórica.
Se ainda não suplantou a popularidade da maconha, o crack já é imbatível se comparado a drogas com maior poder de dependência, como a cocaína.
- O crack torna, rapidamente, o usuário em viciado, e isso faz pressão no mercado. Como tem mais procura, o traficante tende a vender mais droga - analisa o delegado Heliomar Franco, diretor de investigações do Denarc.
Ele afirma que, de um modo geral, os números de apreensões estão dentro da normalidade, à medida que, em determinados meses, a quantidade cresce em razão de grandes operações.
O delegado ressalta que o Denarc tem viajado para fora do Estado para prender traficantes e, que, em 2012, se articula para sufocar o tráfico na região da fronteira com a Argentina, em um trabalho integrado com a Polícia Federal.
Estimativas divulgadas há três anos apontavam que 55 mil lares gaúchos tinham pelo menos um membro da família usuário da droga. Levando em conta que, atualmente, 0,8% dos brasileiros é dependente da pedra, o número de famílias atingidas chegaria a 85,1 mil no Estado.
Para o especialista no tema, o psiquiatra Sérgio de Paula Ramos, o incremento das apreensões de crack pode estar vinculado a maior preocupação das autoridades públicas com a expansão da pedra.
Há pelo menos três anos, a droga vem provocando medidas de prevenção, motivando ações governamentais nas áreas da segurança, e também nas de saúde e de educação, fomentadas, em parte, por campanhas como Crack, Nem Pensar, liderada pelo Grupo RBS.
Ramos define a evolução do crack como uma epidemia. E, como tal, deve passar.
- A situação é extremamente preocupante. A nossa torcida é para que aconteça aqui o mesmo ocorrido nos Estados Unidos, onde a droga apareceu, ninguém sabe ao certo como, e desapareceu do mesmo jeito. Acredito que, em um ano, veremos o declínio da curva de consumo - afirma o psiquiatra que é chefe da Unidade de Dependência Química do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre.