Ao entrar em uma escola da rede municipal de São Leopoldo pela primeira vez, em 1º de abril de 1962, Flávia Maria de Oliveira teve uma surpresa. À sua espera, o pai de um aluno com um relho na mão. Para ele, essa seria a garantia para o filho se comportar. Hoje, aos 68 anos de vida e ao completar 50 anos de magistério, dona Flávia orgulha-se de nunca ter precisado usar o instrumento.
Meio século à frente do quadro negro não é comum. Segundo a Secretaria da Educação de São Leopoldo, dona Flávia é a única com esse tempo de carreira que ainda leciona na cidade. Na rede estadual, não chega a 15 o número de professores que segue há tanto tempo.
Aos 68 anos, Flávia formou médicos, advogados e professores
Foto: Miro de Souza
Sem perfis em redes sociais e avessa ao celular, dona Flávia fala como poucos a língua dos adolescentes com quem convive. A experiência aprimorou um dom que, segundo as colegas, é natural. Uma mistura de carinho e rigidez que os alunos da Escola Municipal Emílio Meyer, do bairro Feitoria, reconhecem e respeitam.
Para a professora, muita coisa mudou desde o início dos anos 60. O reconhecimento da importância do professor foi se perdendo. Mesmo assim, sabe que ainda pode mudar vidas. E, por amor ao magistério, continua subindo as escadas da escola todos os dias.
Sem previsão de sair da sala de aula
Em 2013, a professora Flávia Maria de Oliveira completa 70 anos de idade, e por regra, não poderá mais dar aulas para a rede municipal de São Leopoldo. Mesmo faltando mais de um ano, a perspectiva de deixar a sala de aula já incomoda a educadora. Depois de 50 anos formando cidadãos, será difícil para ela deixar o convívio da escola.
Aposentada na rede estadual em 1990, dona Flávia completou seu período no município em 2002, quando chegou a se questionar se seguiria dando aulas. Não conseguiu deixar de lado a profissão que escolheu aos 18 anos, quando passou em um concurso público municipal tendo apenas o ginásio. Agora, já montou seu plano para não ficar longe da escola. A partir do ano que vem, deve continuar trabalhando, mas como voluntária.
- Pretendo dando aulas de reforço de português. Também voltei a ser aluna, estou reaprendendo o francês, que eu não praticava há muito tempo. Não me vejo em casa, sem fazer nada, quero continuar na escola - explica.
Meio século ao ensino
Professora de São Leopoldo completa 50 anos formando gerações no Vale do Sinos
Flávia Maria de Oliveira é a única com meio século de carreira que ainda leciona no município
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: