Sem sangue, nem suor, nem lágrimas, foi afinal rejeitado o projeto do vereador Pedro Ruas que visava a alterar o nome da Avenida Castelo Branco para Avenida da Legalidade. A matéria não era realmente importante, e, se aprovada, a proposta, por si só, não demonstraria invencível amor dos porto-alegrenses à democracia. Nesse assunto, a cidade se pauta por grande tolerância moral e política.
Em certa ocasião, o Dr. Breno Caldas, então diretor do Correio do Povo, alertou-me de que havia até estelionatários nas placas de logradouros públicos. E como vários ditadores ou amigos de ditaduras estão entre os homenageados, seria um afanoso trabalho dos vereadores fazer censura e faxina política na nomenclatura urbana. Prova da absoluta tolerância de Porto Alegre é que temos uma Praça Che Guevara, e uma rua do bairro Cascata com o nome de Carlos Marighela. Nem um nem o outro passariam num exame de fidelidade à democracia e à legalidade.
A denominação das ruas reflete apenas momentos de prestígio dos homenageados, devoção ocasional de bajuladores, clima de emoção a propósito de acontecimentos sensacionais. As reverências oscilam conforme o termômetro político. Em 1935, no auge do prestígio, Flores da Cunha foi presenteado com as placas da Avenida Independência. Derrubado em 1937, retiraram-lhe o preito. Silveira Martins, o todo-poderoso do Rio Grande ao tempo do Império, ganhou sua rua ainda em vida _ uma então promissora travessa da Independência.
Opinião
Tema para debate: nomes de ruas
Denominação das ruas reflete apenas momentos de prestígio dos homenageados, devoção ocasional de bajuladores, diz historiador
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