Foi o incômodo em ver a grande quantidade de animais na rua e o agravamento desse quadro durante a pandemia que fez a técnica em radiologia Lisie Minuzzo, 38 anos, decidir entrar de cabeça numa vontade antiga: ser voluntária e ajudar a socorrer bichos de rua em Porto Alegre.
O primeiro resgate, ainda em 2019, em uma praça repleta de gatos na Zona Norte, parecia não ter dado muito certo: ela foi mordida por um felino e precisou até tomar vacinas. O começo errático, no entanto, trouxe resultados no futuro.
Em pouco tempo, Lisie passou a conhecer outras mulheres interessadas em ajudar e, juntas, formaram o Projeto Dê Uma Chance. Desde fevereiro de 2020, quando ainda estava nos primeiros passos e de uma forma lenta, a iniciativa já resgatou e conseguiu lares para 90 animais — sendo a maioria gatos, a paixão da idealizadora, que já tinha sete, parte deles que seria descartada de gatis e dois que adotou naquele primeiro resgate em que foi mordida.
— O que me motivou foi o abandono das pessoas, a pandemia. Os que ajudavam já não estavam mais ajudando por vários motivos. A pandemia fechou muitas portas aos bichinhos que já tinham um lar e foram abandonados por questões financeiras, mudança ou morte — contou a técnica em radiologia.
Completamente voluntário, o projeto existe graças à boa vontade e à dedicação de nove pessoas — além de Lisie, sete mulheres tocam sua rotina em paralelo às atividades e há um homem que se juntou ao grupo depois. Entre elas, há uma juíza, uma psicóloga, uma enfermeira e uma barbeira. Uma das integrantes é veterinária, e é a responsável por coordenar a metodologia que será aplicada em cada animal nas diferentes circunstâncias.
— Somos um bando de mulheres que, no início da pandemia, percebeu a chance de encontrar companheiros para as pessoas que iniciariam a quarentena. Mal sabíamos que isso levaria muito mais tempo que o previsto — prosseguiu.
Com a força das redes sociais, o projeto recebe denúncias de gatas prenhas ou de filhotes abandonados na Região Metropolitana, organiza equipes e se desloca até os locais na tentativa de resgate. A maioria é filhote e, após ser medicado e tratado, tem a foto postada no Instagram do projeto na busca por algum tutor. Para a adoção, o candidato precisa preencher uma ficha e responder a um questionário, que é avaliado pelos voluntários e aprovado — ou não. Toda a etapa de vacinação é orientada e a castração é por conta do projeto.
Em outros casos, os protetores têm grandes surpresas. É o que aconteceu recentemente em Charqueadas, na Região Carbonífera. Integrantes do Dê Uma Chance localizaram um gato extremamente debilitado e com a barriga inchada. Levado para exame num veterinário da cidade, o diagnóstico era de um severo problema intestino e de que deveria ser abatido. Desconfiadas, as mulheres da ONG decidiram trazê-lo para um novo diagnóstico na Capital, que foi completamente diferente:
— A prescrição era de um tratamento para defecar. Mas quando trouxemos, descobrimos que era uma gata prenha e grávida de quatro a seis filhotes. Estamos totalmente engajados para salvar essa gata.
Após uma rifa para arrecadar medicamentos, Molly vem sendo acompanhada de perto durante sua gestação, que é de risco, já que ela tem prejudicados os movimentos das patas traseiras.
Para alguns gatinhos, o projeto entende que não é caso para resgate: os animais podem estar já adaptados ao habitat, como em praças, e ser ajudados de forma comunitária com comida. Nesses casos, é feita a castração, esterilização e devolução dos animais. Ao todo, 372 animais já foram castrados em ações do grupo.
Sem sede fixa, o projeto precisa de doações em dinheiro e itens para castração e tratamento, além de ração. Os gatinhos ficam de forma temporária nas casas dos próprios voluntários até serem adotados.
— Nós precisamos da ajuda de todos. Temos uma rede de acolhimento muito boa, mas toda a ajuda é bem-vinda — diz Lisie.
O projeto pode ser encontrado no Instagram @projeto_deumachance e no Facebook ou através do e-mail: projetodeumachancepoa@gmail.com.
Confira a entrevista de Lisie ao Gaúcha Hoje, da Rádio Gaúcha