Entregar refeições em casa não fazia parte da rotina do restaurante de Nathalia Leusin e Martina Rios, no bairro Auxiliadora, em Porto Alegre, até poucas semanas atrás, quando a quarentena decretada pela prefeitura suspendeu o atendimento presencial nos estabelecimentos. Voltado à gastronomia sustentável, o local sempre teve como foco a proximidade total com os clientes, atendendo apenas dentro do estabelecimento. A nova configuração, que inaugurou o serviço de delivery, motivou as duas sócias a buscarem uma forma criativa de manterem contato com a clientela.
— Desde o início, quisemos passar um pouco do que os clientes sentem quando estão aqui com a gente. Escrevi uma cartinha agradecendo por nos apoiarem, com sete passos para deixar a refeição como se estivesse sendo consumida aqui — conta Nathalia, que colocou entre as dicas limpar a embalagem com álcool gel.
Iniciativas como a da Casa Guandu tem sido replicadas por diversos estabelecimentos desde o começo do isolamento social na Capital. Agora, exclusivamente, dependentes das entregas, bares, restaurantes e outros estabelecimentos comerciais têm anexado bilhetes carinhosos aos produtos, agradecendo pelo apoio, recomendando cuidados ou simplesmente tentando tranquilizar as pessoas sobre o momento atual.
Proprietário de uma hamburgueria que começou as atividades na Cidade Baixa seis anos atrás, Mark Bandeira escreveu de próprio punho uma carta para acompanhar os pedidos feitos por aplicativo nas últimas semanas. Além de agradecer pela confiança, ele destaca o cuidado do restaurante com os produtos — uma preocupação crescente diante do alto potencial de contágio do coronavírus.
— Peço para que as pessoas fiquem tranquilas e tenham certeza que estamos cuidando de todos os detalhes. Quero que se sintam seguras. Acho que esse é um momento em que todo mundo precisa de um pouco de afeto — diz.
O retorno ao aceno cuidadoso foi imediato. Logo surgiram postagens dos clientes no Instagram e mensagens no WhatsApp — inclusive de pessoas cobrando o seu bilhete. A divulgação positiva tem ajudado a sustentar o negócio depois da interrupção do atendimento nas lojas.
As vendas por app e pela internet também têm sido determinantes para a sobrevivência da marca de alfajores de Jeison Scheid. Desde que criou o negócio, seis anos atrás, seu maior faturamento era o que vinha de pontos de venda, que incluía bares, restaurantes e mercados. O fechamento dos estabelecimentos acarretou uma queda estimada de cerca de 90% das vendas.
Apesar do baque, o recado que acompanha as sacolas de alfajores Odara desde o começo da quarentena passa longe do rancor: "Obrigada por ficar em casa", diz o bilhete escrito à mão anexado às embalagens.
— A gente tem pedido pra galera ficar em casa, que é o certo no momento, e desejado boas energias para degustar o produto e esquecer um pouco o que todo mundo está passando agora. A gente notou que muita gente compartilha. Acho que às vezes a pessoa está carente, e receber uma mensagem assim faz diferença. Ainda estamos no prejuízo, mas já conseguimos respirar — conta.
O fechamento de padarias, restaurantes, bares e lancherias ao público foi determinado por um decreto do Executivo publicado em 20 de março. Estão permitidos os serviços de tele-entrega (delivery) e "pegue e leve" (take away). A medida tem validade de 30 dias.