
Os organizadores dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 têm um novo e grande desafio. Não bastassem todos os preparativos para o megaevento programado para ser realizado entre 24 de julho e 9 de agosto, os dirigentes japoneses precisam dar garantias à comunidade esportiva mundial de que a ameaça de contágio pelo novo coronavírus será superada.
A situação tem deixado o mundo em alerta. A Organização Mundial da Saúde declarou emergência global, já que a propagação do vírus é cada vez maior. Na próxima semana, a partir de terça-feira (11), a entidade promoverá em Genebra, na Suíça, uma reunião de dois dias, com o objetivo de discutir o tema e o desenvolvimento de formas de tratamento e de vacinas eficientes contra o vírus. Segundo a OMS, não existe cura eficaz para a doença no momento.
Mas, mesmo cinco meses antes dos Jogos, o esporte mundial já se mobiliza. Até porque diversas competições são realizadas ao redor do planeta, envolvendo atletas de todas as nacionalidades. São diversas viagens não só para competições, como também para períodos de treinamento.
— Estava programado para que 10 atletas viessem treinar aqui no clube. E o que ocorreu foi uma pressão dos pais dos atletas menores (crianças), que ficaram preocupados. O clube fez um comunicado por e-mail do cancelamento, sem dar maiores detalhes — diz o esgrimista gaúcho Guilherme Toldo, que treina na cidade de Frascati, na região metropolitana de Roma, na Itália.
A situação acendeu o alerta nos organizadores dos Jogos. O presidente-executivo do Comitê Organizador, Toshiro Muto, afirmou em reunião com entidades dos Jogos Paraolímpicos estar terrivelmente preocupado com o surto da doença.
Por prevenção, competições são canceladas
Evitar o contágio é a maior preocupação no momento. Por isso, diversas competições já foram canceladas ou tiveram suas sedes modificadas, como os pré-olímpicos de boxe, futebol feminino e basquete feminino, que ocorreriam na China. A Confederação Asiática de Futebol (AFC) adiou as partidas envolvendo os quatro clubes chineses que disputam o torneio. A Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) também já cancelou algumas competições.
— Começou este alerta grande agora em janeiro. Os torneios Challenger, que seriam realizados na China, foram cancelados. Por enquanto, a preocupação da ATP é nesta região — diz o tenista brasileiro Bruno Soares, campeão de cinco torneios de Grand Slam, que recentemente participou do Aberto da Austrália.
O campeonato chinês de futebol, que começaria no dia 21 deste mês, não tem data para iniciar. Segundo o brasileiro Rafael Silva, atacante que joga pelo Wuhan Zall, time que faz sua pré-temporada na Espanha, o grupo é submetido a testes diários.
— Os jogadores estão muito preocupados. A família deles está em casa e quase não pode sair, a não ser dentro de um horário definido. Se é para fazer compras, eles precisam ir em mercados que têm entrada subterrânea — contou em entrevista ao Estadão.
A situação de Rafael é menos preocupante porque ele antecipou a viagem para Sevilha, cidade escolhida pelo Wuhan Zall para realizar o período de treinamento.
Integrante da seleção brasileira nas duas últimas Copas do Mundo, o volante Paulinho, que defende o Guangzhou Evergrande, cogitou deixar o país.
— Pensei em deixar a China por causa do coronavírus, especialmente minha família, mas eles nos garantiram que podemos ficar tranquilos. Estamos bem. Nos disseram para tentar sair de casa o menos possível —disse o jogador de 31 anos em conversa com o jornal espanhol Mundo Deportivo.
COI afirma garante monitorar os fatos
O Comitê Olímpico Internacional (COI) apenas informa que "está monitorando os fatos" e "que medidas contra doenças infecciosas são uma parte importante dos planos de Tóquio 2020 para sediar os Jogos de maneira segura e protegida". A entidade máxima do esporte olímpico mundial também não cogita uma possibilidade de adiar os Jogos.
Esta não é a primeira vez que a realização dos Jogos Olímpicos enfrenta a propagação de uma doença. Antes dos Jogos Rio 2016, a ameaça era o vírus da zika. Porém, ao contrário do que ocorreu no Brasil, a preocupação é bem maior.
— Não dá para fazer uma comparação por causa do meio de transmissão. Quando é transmitido de humano para o humano se torna pior porque as pessoas frequentam ambientes com multidões, como por exemplo em aeroportos, estações de trem . E o que piora ainda mais é quando o vírus é transmitido por respiração, o que é muito pior do que pelo mosquito do zika, onde você tem que frequentar as zonas endêmicas. já que fora delas não existe esta possibilidade. Por isso quando são meios respiratórios ou secreções (as formas de transmissão) é muito pior e essa alarma global — diz o médico gaúcho Ivan Pacheco, que atuou como Oficial de Controle de Doping nos Jogos Rio 2016.
Procurado pela reportagem de GaúchaZH, o Comitê Olímpico do Brasil informou que no momento as recomendações para os atletas brasileiros foram enviadas através de um comunicado, com o objetivo de reduzir o risco de infecção pelo vírus. O COB garante que seguirá atento ao avanço do vírus, assim como aos informes da Organização Mundial de Saúde, Comitê Olímpico Internacional e Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Tóquio 2020 quanto ao assunto.
O alerta do COB chegou aos atletas, que buscam medidas para fugir de um possível contágio nos meses que antecedem os Jogos de Tóquio.
— Eu li a nota do COB, mas pelo que nos foi informado nenhuma etapa do circuito mundial de judô foi cancelada. No meu caso vou me tentar precaver. Não sei se os atletas chineses vão disputar as próximas etapas na Europa. Mas como já tem casos suspeitos em vários países vou tentar evitar locais de aglomeração, usar máscaras. Sei que será complicado, mas talvez ir ao locais de competição apenas no dia das lutas - disse o judoca Rafael Buzacarini, 16º colocado no ranking mundial dos meio-pesados (100 kg) e que no momento é o dono da vaga brasileira para a olimpíada.
Atletas brasileiros revelam como estão se prevenindo contra o coronavírus
Goleiro da seleção brasileira de handebol masculino, Rangel da Rosa, que defende o Deportivo Bidasoa, da cidade espanhola de Irún, falou sobre como o tema é tratado em seu clube.
—O assunto do coronavírus aqui na Espanha está sendo bastante comentado. Estamos recebendo bastante recomendações como lavar bem as mãos, evitar multidões e em viagens usar máscara nos aeroportos —afirmou o jogador de 23 anos.
O Japão é no momento o segundo país com maior número de casos suspeitos de coronavírus, perdendo apenas para a China, que teve na cidade de Wuhan, o foco originário da doença. O coronavírus já matou 563 pessoas, de acordo com um novo boletim divulgado pelas autoridades da China nesta quinta. Fora do país, são dois casos de óbitos: um em Hong Kong, território-autônomo chinês, e outro nas Filipinas.
Mas apesar de toda a preocupação gerada pelo coronavírus, a realização dos Jogos de Tóquio, segundo o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, não está ameaçada até o momento.
—Quanto à possibilidade de não realizar os Jogos de Tóquio (conforme programado), gostaria de deixar claro que não houve conversas ou planos sendo considerados entre os organizadores e o Comitê Olímpico Internacional desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou uma emergência global - disse Abe, em manifestação no parlamento do Japão nesta quinta-feira (6).
Em toda a história, os Jogos Olímpicos só foram cancelados em três oportunidades. A primeira em 1916, quando a competição marcada para Berlim não ocorreu em virtude da Primeira Guerra Mundial. Depois a edição de 1940, programada para Tóquio foi transferida para Helsinque, na Finlândia, por causa da segunda guerra sino-japonesa. Porém, com o avanço da Segunda Guerra Mundial acabou não sendo realizada, assim como a de 1944, em Londres.