
O sucesso da Olimpíada 2016 mostrou ao mundo que, mesmo com problemas e em meio a uma crise econômica, o Brasil é capaz de organizar um evento de grande porte. A Paraolimpíada, porém, pode ter um resultado contrário: sofrendo com a falta de verbas e cortes no já minguado orçamento, a competição – que começa no próximo dia 7 – corre riscos em todas as frentes. Serão menos funcionários do que o programado, menos locais de competição e, possivelmente, menos países do que os 165 convidados a enviar seus para-atletas ao Rio de Janeiro.
Em um comunicado feito na semana passada, Sir Philip Craven, presidente do Comitê Internacional Paralímpico (IPC), disse que a entidade passa pelo "maior desafio nos seus 56 anos de história" para organizar os Jogos no Brasil. Garantindo que não haverá redução no número de esportes programados, com diversas competições em 22 modalidades diferentes, o dirigente afirmou que já trabalhou para reduzir ainda mais os custos da competição. O Parque Olímpico de Deodoro, por exemplo, será desmantelado – apenas as competições equestres, o futebol 7 e o tiro esportivo serão realizados no local, mas de forma independente, sem estarem ligados a uma estrutura maior. Com isso, apenas o Parque Olímpico da Barra e o Engenhão terão estruturas permanentes de imprensa e de transporte integrado para atletas e torcedores.
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A torcida, aliás, é um outro problema grave a pouco mais de duas semanas do início da Paraolimpíada. Apenas 290 mil, de um total de 2,5 milhões de ingressos, foram vendidos até agora – o que representa 11,6% do total de entradas. No site ingressos.rio2016.com, há entradas à venda para quase todas as fases de todos os esportes, mesmo que os tickets com valores mais baixos (muitas vezes por R$ 10 a inteira, ou R$ 5 para estudantes e maiores de 60 anos) não estejam mais disponíveis. É possível ver jogos da primeira fase do futebol 7 por R$ 30, e a final sai por R$ 60. Já na natação e no atletismo, os dias mais caros, 8 e 9 de setembro, têm ingressos a R$ 90 (na natação) e R$ 110 (atletismo). As partidas do Brasil no basquete de cadeira de rodas não têm entradas à venda pelo site. Já no tiro com arco, no sambódromo, é possível acompanhar as oitavas de final por R$ 10.
A situação mais grave, no entanto, é mesmo a do orçamento geral da competição. Dizendo que o Comitê Organizador Rio 2016 não está sendo claro com respeito à situação financeira, Craven agradeceu o empenho do prefeito do Rio, Eduardo Paes, e do presidente interino Michel Temer pelo apoio nos últimos dias. Mas ressaltou que a falta de dinheiro pode fazer com que, no mínimo, 10 países não mandem seus representantes ao Rio – a organização deveria enviar garantias financeiras aos comitês paraolímpicos de cada país até o fim de julho, o que não foi feito.
– Todos os cortes que fizemos foram feitos em cima do que, ao lado do COI, já havíamos cortado nos últimos 12 meses, e com certeza terão impacto nos Jogos. Estamos trabalhando desesperadamente para proteger os atletas, mantendo todos os serviços do campo de jogo. Vamos fazer de tudo para manter o serviço esperado. Temos, também, 10 países que, mesmo que recebam seus pagamentos, sofrerão para cobrir os custos de participação. O IPC está trabalhando com eles para encontrar soluções e garantir sua participação no Rio. Queremos que todos os atletas classificados possam vir até aqui. É o que eles merecem e querem após anos de preparação – disse Craven.
Longe de Pequim e Londres
A baixa procura por ingressos também foi comentário do dirigente, que lamentou a falta de estádios e arenas lotadas no Rio, ao contrário do que ocorreu nas últimas Paraolimpíadas.
– Neste ponto, é difícil esperar os estádios lotados que vimos em Pequim e Londres, ou que esperamos em Tóquio, em 2020. Apesar disso, esperamos que a paixão dos brasileiros e o desejo de torcer pelos seus atletas fará com que eles venham em massa aos Jogos. O poder do povo pode, realmente, determinar o destino do evento.
*ZHESPORTES