
O interesse da França em ter o Grêmio Náutico União como centro de treinamentos antes da Olimpíada do Rio, entre 25 de julho e 3 de agosto, começou de forma inesperada em 2015. Um grupo de atletas master franceses, após competir em Buenos Aires, passou por Porto Alegre e ficou sabendo que o União contava com duas piscinas com especificações exigidas pela Federação Internacional de Natação (Fina), uma de 50m e a outra, de 25m. Eles visitaram o local, gostaram do que viram e, no retorno à França, indicaram o clube à Federação Francesa de Natação. De lá para cá, foram muitos telefonemas e e-mails e duas visitas de representantes da federação. Além de se mostrarem bem-informados sobre a cidade, os franceses não fizeram exigências extravagantes e o idioma não foi um impeditivo – fizeram questão de enviar um contato que falasse português.
- Eles não exigiram nada de diferente, a única coisa que querem é piscina exclusiva durante os treinos, o resto do clube estará aberto. Em um primeiro momento, eles ficaram surpresos com a estrutura, tanto a parte esportiva como a administrativa. Eles já chegaram com uma série de informações sobre cidade e o clube - lembra o presidente do clube de Porto Alegre, Francisco Schmidt.
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Caminhada do hotel até o treino
A delegação francesa terá entre 25 e 30 pessoas e deve ficar hospedada no Sheraton, a cerca de 7 minutos do União. O clube disponibilizou van para o transporte dos atletas, mas a intenção da Federação é que eles façam o percurso a pé pelas ruas do bairro. Hospedados no mesmo hotel desde esta quinta, o diretor técnico da Federação Francesa de Natação, Jacques Favre, e o diretor-adjunto, Nicolas Scherer, já experimentam o ambiente da cidade. Nesta sexta, eles terão uma reunião com o presidente do União e o diretor de natação, Carlos Eduardo Pavão, para definir os horários de treinamentos, os espaços que usarão além das piscinas (como academia e parte médica) e alimentação.
- Claro que eles terão lugares restritos para reunião, mas a borda da piscina é democrática. A troca de experiência entre os técnicos do clube e os técnicos franceses já vai estar estabelecida na nossa parceria, para que nossos treinadores possam participar e visualizar os treinamentos. Se eles não tiverem uma velocista de 50m que dispute a mesma vaga da Graci (Graciele Herrmann), eles vão deixar a gente olhar tudo - afirma Pavão.
Após mais de quatro anos de ciclo olímpico, a seleção francesa chegará ao Rio Grande do Sul na reta final da preparação. Serão 10 dias em solo gaúcho para finalização e adaptação ao país dos Jogos. Daqui, eles saem quase direto para a piscina do Estádio Aquático Olímpico . As competições de natação serão entre os dias 6 a 13 de agosto.
- Estar envolvido nesta parte final da preparação deles vai trazer um pouco do ambiente olímpico aqui para dentro do União. A vinda deles também desmistifica um pouco, para os nadadores do Brasil, a figura do atleta ser um super-homem, mostra que ele é um ser humano normal e que, tendo condições de treino e talento, você pode chegar lá - acredita Cristiano Klaser, coordenador técnico de natação do União.
Manaudou entre nós

A principal estrela da delegação que desembarcará em Porto Alegre é Florent Manaudou, atual campeão olímpico e mundial dos 50m livre e ouro nos 50m borboleta em Kazan. O francês de 25 anos é o homem a ser batido em provas de velocidade nas piscinas do Rio de Janeiro e principal adversário dos brasileiros Bruno Fratus e Cesar Cielo. Manaudou traz a paixão pela água no sangue: pai, mãe, um irmão e uma irmã foram nadadores. Laure, a mais famosa antes do caçula, foi campeã olímpica e mundial. Com o outro em Londres-2012, Florent e Laure foram os primeiros irmãos campeões olímpicos de natação.
Tem como característica nadar bem os quatro estilos, mas optou por deixar o medley de lado para focar na velocidade. A escolha vem dando resultado. No início de fevereiro, fez a melhor marca do ano nos 50m livre: 21s57, ainda aquém dos 21s34 que garantiram o ouro olímpico e dos 21s19 de Kazan.
Também especialista em provas de velocidade, assim como Manaudou, a gaúcha Graciele Herrmann comemora o fato de poder ver um ícone da modalidade nas mesmas águas em que ela treina diariamente no União.
- Vai ser bem legal trocar uma experiência com ele, vou tentar pegar umas dicas. Vou cuidar a saída dele, porque é muito boa e a minha não é tão boa assim - diz Graciele, que atingiu o índice olímpico ainda em 2015 nos 50m livre e terá que confirmar o desempenho em abril, no Troféu Maria Lenk, para garantir uma vaga na Olimpíada junto com o ídolo.