A adolescente que estreou aos 14 anos na seleção brasileira principal foi amadurecendo e se transformando em mulher ao longo de 18 anos e, mesmo não tendo como principal característica a exposição, sempre concedeu boas entrevistas.
Zero Hora recorda algumas destas entrevistas de Mayra nesse período. Após estrear nos Jogos Olímpicos, com apenas 17 anos, Mayra chegou aos Jogos de Londres como potencial candidata ao pódio.
— Estou muito mais preparada e treinada do que em 2008. Sei que tenho chances de medalha e vou atrás disso — disse antes de embarcar para Inglaterra e escrever seu nome na história do esporte brasileiro.
A medalha é linda. Ela é bem pesada, mas o corpo fica leve
Após perder na semifinal teve pouco tempo para se recuperar e garantir um lugar no pódio. Era 2 de agosto, um dia antes de completar 21 anos.
— Todas as batalhas, todas as dores, tudo que tive que abrir mão, tudo isso valeu a pena por este momento. A medalha é linda. Ela é bem pesada, mas o corpo fica leve — disse a jovem medalhista.
No começo da carreira, Mayra foi prata nos Jogos Pan-Americanos do Rio de 2007, ao ser derrotada pela americana Ronda Rousey, seis anos mais velha e que se tornaria campeã do UFC. Em 2015, a gaúcha considerou enfrentar a antiga rival no octógono.
— O problema seria o peso, eu teria que baixar ou ela teria que subir um pouco. Mas seria uma coisa interessante lutar com ela no MMA. Seria bacana — afirmou.
Apontada como favorita ao ouro no Rio em 2016, Mayra relatou um dia antes de competir que estava ansiosa.
— Sossegado antes de Olimpíada nenhum atleta fica. A ansiedade bate, o nervosismo bate, é do ser humano. Mas os adversários também estão assim — falou na área internacional da Vila Olímpica.
Com o segundo bronze garantido, a gaúcha comemorou a capacidade de se reerguer mais uma vez, após dura derrota na semifinal.
A primeira coisa que a gente aprende no judô é cair e depois levantar. Eu caí feio, mas levantei
— É maravilhoso, medalha olímpica para atleta é tudo. Em Londres, foi maravilhoso receber aquela medalha, mas aqui foi mágico. Uma das melhores sensações que eu já tive na vida. A primeira coisa que a gente aprende no judô é cair e depois levantar. Eu caí feio, mas levantei.
O bicampeonato do mundo veio em 2017 e Mayra não escondeu a admiração pelo primeiro brasileiro a conquistar o título em duas oportunidades.
— O Derly sempre foi um espelho para mim. É muito bom ter um exemplo como ele em casa — comentou à Zero Hora, ao lembrar as duas medalhas de ouro de João Derly, que como ela foi atleta da Sogipa.
Não tenho este negócio de ser a melhor do Brasil sem uma concorrente próxima no ranking. Tenho que continuar focada
Em Porto Alegre, em 2018, participou do programa Cardápio do Zé, no Gaúcha Sports Bar e falou sobre vaidade.
— Não tenho este negócio de ser a melhor do Brasil sem uma concorrente próxima no ranking. Tenho que continuar focada. Esteticamente não tem como lutar maquiada, embora tenha algumas que lutam. Eu me borraria toda (risos). O cabelo vive desarrumado. Já em ocasiões especiais, aí sim. Gosto de me arrumar. A gente fica irreconhecível no bom sentido. As gurias ficam lindas.
Uma estátua para homenageá-la foi cogitada em 2019, pelo então presidente da Sogipa Carlos Wüppel.
— Meu Deus do céu! Não faça isso! Eu já imaginei uma coisa muito estranha (risos). Isso é um reconhecimento, claro. Mas não precisa de uma estátua. Vamos gravar as mãos ali já está bem bacana. A estátua vai espantar passarinhos (mais risos) — disse à Rádio Gaúcha ao ser informada da ideia.
Os Jogos de Tóquio foram adiados em março de 2020, por conta da pandemia de coronavírus, e a judoca apoiou a decisão.
— Acredito que tenha sido a melhor decisão para este momento. A luta agora é outra. A gente tem de priorizar a nossa saúde, nos manter em casa e cuidar dos mais próximos. Vamos combater esse vírus o mais rápido possível. Ano que vem a gente comemora e curte a Olimpíada. Agora vamos nos cuidar. No momento isso é o mais importante — afirmou.
Felizmente ou infelizmente, já estou acostumada a ter lesão e passar por cirurgia, então o caminho, eu sei bem como é
Em meio às incertezas que o mundo atravessava, Mayra sofreu grave lesão no joelho em setembro de 2020 e passou por mais uma cirurgia – foram oito em toda a carreira.
— Felizmente ou infelizmente, já estou acostumada a ter lesão e passar por cirurgia, então o caminho, eu sei bem como é. Como passar por cada momento, seja a tristeza quando machuca, o momento de aceitação que lesionou, a cirurgia, a fisioterapia, tudo. Cada momento é diferente. Esse que eu passei agora foi bem diferente de todos os outros, por conta da pandemia — falou para ZH pouco antes de voltar às competições no ano seguinte, após oito meses de recuperação.
Eu estou muito feliz com esse momento. Todas essas batalhas me deixaram assim. As mais dolorosas foram as que me fizeram conquistar três medalhas olímpicas
Nos Jogos de Tóquio, a gaúcha se tornou a primeira brasileira a ganhar três medalhas em uma competição individual nos Jogos Olímpicos.
— É a conquista mais importante, mais saborosa da minha vida, por tudo que eu passei nos últimos tempos. Por toda aquela tensão, por acreditar e continuar lutando e batalhando. Hoje, poder concretizar isso, por vencer a batalha das dores, da luta psicológica. Eu estou muito feliz com esse momento. Todas essas batalhas me deixaram assim. As mais dolorosas foram as que me fizeram conquistar três medalhas olímpicas — disse à Rádio Gaúcha na Arena Budokan.
Em março de 2022, no Dia Internacional da Mulher, Mayra falou sobre o futuro e deu indícios do que poderia acontecer após sua quinta Olimpíada.
— Estou focada em Paris e quando chegar lá vou ver se acabou ou não. Vou ver como estará a minha cabeça, para ver se será possível continuar ou não.
Eu "tô" muito feliz. Estou louca para voltar para casa, para Porto Alegre. É minha paz, onde me sinto bem, feliz
Tricampeã do mundo em 2022, Mayra atendeu a Rádio Gaúcha e Zero Hora, e por telefone projetou o retorno para casa.
— Eu "tô" muito feliz. Estou louca para voltar para casa, para Porto Alegre. É minha paz, onde me sinto bem, feliz. A galera torce muito. Me veem na rua e comentam "Eu te vi, parabéns, vai com tudo, continua assim". É o melhor povo não adianta, a gente tem isso (risos).
A cabeça eu trabalho todos os dias, mas o corpo tem coisas que vão além
Mayra passou um período reclusa e recusou entrevistas. Voltou a falar após a última luta da carreira em Paris.
— Venho brigando muito com meu corpo, lesão, com dor. A gente paga o preço, cada vez mais difícil. O preço está sendo grande. Ainda não decidi nada. Voltar para casa, ver o que eu posso fazer. (Participar de) poucas competições, para poupar. É voltar para casa e ver como fica meu corpo. A cabeça eu trabalho todos os dias, mas o corpo tem coisas que vão além — desabafou, chorando.
Apesar do anúncio do final de sua carreira nesta quinta-feira (26), Mayra não definiu se irá conceder entrevista para falar sobre a decisão.