O combate à discriminação racial no futebol foi o tema central do painel "Racismo no Futebol: Prevenção e enfrentamento", realizado na tarde desta segunda-feira (23) no Teatro Dante Barone, da Assembleia Legislativa, por iniciativa da Frente Negra Gaúcha.
Participaram do evento o presidente do Grêmio, Alberto Guerra, o vice-presidente de relacionamento social do Inter, Cauê Vieira, o presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Luciano Hocsman, o gerente de desenvolvimento e projetos da CBF, Ricardo Leão, o diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, a professora de jornalismo esportivo da UFRGS, Sandra de Deus, e o jornalista do Grupo RBS, Rodrigo Oliveira.
— O futebol é uma oportunidade de levar o debate sobre racismo para toda a sociedade. Para falarmos sobre o racismo no futebol, mas também sobre um problema social e estrutural. O futebol torna essa discussão mais acessível a diversos públicos e permite que este assunto chegue a diversas camadas da sociedade, sem que o debate fique restrito a um grupo — disse à GZH a vice-presidente da Frente Negra Gaúcha, Vanessa Mulet.
Primeiro a falar no painel, o diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, ressaltou a necessidade de haver mais negros em cargos de gestão nos clubes e nas entidades responsáveis pela fiscalização e punição dos casos de racismo.
— Nós não vamos combater o racismo enquanto pessoas negras não ocuparem espaços no STJD e na gestão no futebol brasileiro, que hoje são 99% ocupados por brancos — opinou.
Já o jornalista do Grupo RBS, Rodrigo Oliveira, falou sobre a reportagem "Caso Vini Júnior: um mergulho nas raízes do racismo", produzida na Espanha, em junho, e comparou a situação racial na sociedade espanhola com o cenário atual no Brasil.
— A reportagem mostrou que a Espanha está muito mais avançada do que o Brasil em temas importantes, como os direitos das mulheres e da comunidade LGBT, mas muito mais atrasada no debate sobre o racismo. Porém, o fato de o Brasil debater mais a questão racial é importante, mas não significa necessariamente que a nossa sociedade seja menos racista que a espanhola — avaliou.
A professora de jornalismo esportivo da UFRGS, Sandra de Deus, sugere que a questão racial seja tema na formação de jornalistas no ambiente universitário.
— O racismo precisa ser discutido pelos jornalistas nas universidades. Os jornalistas precisam ter essa formação — declarou.
Já os representantes da dupla Gre-Nal destacaram as iniciativas feitas pelos dois clubes para prevenir e punir casos de racismo nos estádios e ressaltaram a importância de a força dos dois clubes ser utilizada para ajudar a fomentar o debate sobre o tema na sociedade.
— O racismo não merece ser grenalizado. Grêmio e Inter fora de campo tem muito mais muitas coisas em comum do que diferenças. A rivalidade tem de ficar só dentro das quatro linhas para que juntos possamos lutar contra esse câncer dentro do futebol que é o racismo — disse o presidente do Grêmio, Alberto Guerra.
O vice-presidente de relacionamento social do Inter, Cauê Vieira, foi pelo mesmo caminho.
— O racismo é um tema que não pode ser tratado com base na grenalização. Não estamos aqui para discutir qual clube que melhor age ou que tem melhor ferramenta. Estamos aqui para falar sobre como o futebol pode ajudar a sociedade a evoluir — declarou.
O gerente de desenvolvimento e projetos da CBF, Ricardo Leão, participou por vídeo, e destacou as medidas implementadas pela gestão do presidente Ednaldo Rodrigues para punir de forma mais dura os clubes que não impedirem casos de racismo e também para formar mais técnicos e gestores de futebol negros.
Por fim, o presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Luciano Hocsman, falou sobre as iniciativas mais recentes da entidade para combater o racismo no futebol gaúcho e destacou a força que o esporte tem para gerar um impacto positivo na sociedade no debate sobre a discriminação racial.
— Todos dizem que o futebol é um reflexo da sociedade. Pois nós temos que fazer o futebol ser um exemplo para a sociedade. Se no nosso ecossistema nós conseguirmos erradicar esse tipo de situação, quem sabe a sociedade não pode olhar para o futebol e ver que isso não tem nunca teve cabimento — finalizou Hocsman.