A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) regulamentou, na quarta-feira (8), a participação de equipes mistas em torneios amadores do futebol brasileiro. A decisão autoriza que os times possam ser formadas tanto por homens quanto por mulheres e permite que, a critério das organizações e federações, as equipes exclusivamente femininos possam participar de torneios masculinos.
Essa nova regra, que entrou em vigor no Dia internacional da Mulher e promete ser um marco da luta pelos direitos das mulheres no esporte, poderá ser aplicada em todas as categorias, da iniciação esportiva até o futebol amador adulto.
— Com esta mudança, pretendemos democratizar e massificar a prática do futebol pelas atletas, removendo barreiras para o surgimento e o desenvolvimento de novos talentos — explicou Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF.
Rodrigues também enfatizou que a entidade tem investido mais no futebol feminino amador, mas destacou que ainda existem alguns obstáculos que precisam ser superados.
— A CBF tem investido muito nas seleções e nas competições femininas de alto rendimento, que contam hoje com um calendário de competições nacionais a partir da categoria sub-17. O topo da pirâmide está relativamente bem estruturado, mas assentado sobre uma base frágil — afirmou.
O presidente da CBF também avaliou a medida como fundamental para corrigir problemas na formação de atletas mulheres no Brasil.
— É importante destacar que o futebol misto trabalha com a massificação e a inclusão. Faltam equipes e, sobretudo, competições amadoras em nível local e regional nas primeiras categorias de iniciação e formação desportiva, como a sub-10, sub-12, sub-14 — listou alguns dos problemas.
Para Ednaldo, essa regulamentação ajudará a corrigir parte dos problemas do futebol feminino e incentivará a participação das jovens no esporte.
— Acredito firmemente que a regulamentação do futebol misto ajudará a corrigir este problema, incentivando a participação de milhares de jogadoras em equipes e competições mistas. Com o tempo, o aumento no número de atletas registradas também poderá levar à criação de equipes e competições exclusivamente femininas nas categorias mais jovens — destacou.
Mecanismo de Dispensa Etária do Futebol Misto
Outra alteração prevista pela medida diz respeito ao "Mecanismo de Dispensa Etária do Futebol Misto" (MDE), que define que atletas e equipes femininas de uma determinada categoria poderão participar, a partir de agora, de competições mistas em uma faixa etária inferior. Com isso, por exemplo, jogadoras do sub-17 (meninas com até 17 anos) poderão participar de torneios masculinos do sub-13 (meninos com até 13 anos). No entanto, os critérios ainda serão decididos pelas entidades organizadoras.
Segundo informações divulgadas à imprensa pela CBF, a implementação do MDE tem como principal objetivo promover a igualdade de oportunidades para as jovens atletas, compensando diferenças no desempenho inerentes ao processo de maturação biológica e às especificidades de cada gênero, especialmente com o início da puberdade.
O que a medida não inclui?
A regulamentação do futebol misto já está em vigor em muitos países europeus, como França e Alemanha. Na Inglaterra, por exemplo, atletas de ambos os sexos podem jogar juntos até a categoria sub-18. Já na Dinamarca e na Holanda, não existem restrições de idade.
No Brasil, a decisão da CBF não afetará as equipes femininas e torneios exclusivos para mulheres. Além disso, ainda ficará a cargo das organizações e federações envolvidas nos torneios masculinos a participação de times exclusivamente femininos e a forma como o MDE será utilizado.
Compromisso da CBF
Em seu site oficial, a CBF se comprometeu a realizar campanhas pela adoção do futebol misto e do mecanismo de dispensa etária nas competições organizadas pelas federações filiadas e ligas amadoras, assim como por todos os entes governamentais, como Secretarias Estaduais e Municipais de Educação e de Esporte, os gestores de escolas públicas e privadas e os organizadores de competições amadoras no âmbito do desporto educacional e de participação.
Apesar das limitações da medida, a decisão foi comemorada por muitas atletas e mulheres envolvidas no esporte, como a técnica Pia Sundhage, comandante da Seleção Brasileira feminina. A sueca relembrou sua formação como atleta para mostrar apoio à novidade.
— Eu tive sorte porque, quando eu era criança, eu jogava futebol com meninos. Isso não tem nada a ver com meninos ou meninas, e sim com o futebol. Se nós conseguirmos criar espaços onde se pratica o esporte, não importa se é uma menina ou menino. É uma oportunidade muito grande para todos nós que jogamos futebol — afirmou Pia.