Quando a bola oval rolar às 20h30min (horário de Brasília) deste domingo (12), o Super Bowl LVII entrará na história da NFL. Não importa se é o Kansas City Chiefs de Patrick Mahomes ou o Philadelphia Eagles de Jalen Hurts que levará o tão cobiçado troféu Vince Lombardi para casa. Importa é que a liga de maior audiência dos Estados Unidos terá vivido sua primeira final com dois quarterbacks negros. Uma vitória do esporte e também de todos nós — por mais que você nada saiba de futebol americano.
A decisão que ocorrerá no State Farm Stadium, em Glendale, no Arizona, premia não só as duas melhores franquias da temporada. Mas também será emocionante para um espectador em especial: Colin Kaepernick. O ex-quarterback do San Francisco 49ers foi o autor, num jogo de pré-temporada em agosto de 2016, de um gesto icônico: se ajoelhou durante o hino nacional para protestar contra a injustiça racial nos EUA.
— Não vou me levantar para mostrar orgulho a uma bandeira de um país que oprime negros e negras. Para mim, isso é maior do que o futebol e seria egoísta eu ignorar isso — destacou à época o atleta que se tornaria ativista social e, desde 2017, após o final de seu contrato com o 49ers, não conseguiria mais se recolocar como quarterback nas franquias da NFL.
Antes de Mahomes e Hurts, o próprio Kaepernick já disputou um Super Bowl: em fevereiro de 2013, quando o 49ers foi derrotado pelo Baltimore Ravens na decisão da NFL. Além deles, outros cinco quarterbacks negros já lideraram equipes em finais desde o Super Bowl I em 1967: Doug Williams, Steve McNair, Donovan McNabb, Russell Wilson e Cam Newton. A busca pelo título, em 2023, caberá agora aos QBs de Chiefs e Eagles. Veja como Mahomes e Hurts se prepararam para disputar o jogo histórico deste domingo.
Mahomes, o próximo Brady?
Eleito na quinta-feira o MVP (jogador mais valioso, em tradução livre) pela segunda vez na NFL, Patrick Lavon Mahomes disputará sua terceira final de NFL. Campeão pelos Chiefs no Super Bowl LIV, em fevereiro de 2020, e vice no LV, na temporada seguinte, o quarterback de 27 anos hoje é o principal nome da liga. E destacou, em entrevista nesta semana, o papel de seus antecessores para que ele e Hurts pudessem disputar um Super Bowl.
— Por ser um jogo que o mundo estará vendo e ter dois quarterbacks negros, acredito que será muito especial. Eu tenho aprendido cada vez mais sobre a história de QBs negros desde que entrei na NFL. Os jogadores que vieram antes do Jalen (Hurts) e de mim prepararam o caminho para isso acontecer — disse o quarterback dos Chiefs.
Mahomes, hoje, é o principal candidato a se aproximar dos feitos de Tom Brady, campeão de sete Super Bowls (seis pelo New England Patriots e um pelo Tampa Bay Buccaneers, vencendo o próprio Mahomes) e maior jogador da história no futebol americano. Mas para bater o ex-marido de Gisele Bündchen, que anunciou sua aposentadoria (pela segunda vez e, ao que parece, definitiva) na semana passada, Mahomes terá de enfileirar títulos. E nada melhor para o QB draftado em 2017, da Universidade Texas Tech, do que uma final para mostrar todo seu talento.
— Alcançar Tom é algo que exige muito tempo, você precisará falar comigo quando eu tiver 38 anos e quatro ou cinco títulos, daí eu vou falar sobre tentar chegar no Tom — comentou.
Dono de uma capacidade ímpar para improvisação em campo, sobretudo no jogo terrestre, Mahomes terá um desafio extra no Super Bowl LVII. Após sofrer uma torção alta no tornozelo no jogo eliminatório divisional, contra o Jacksonville Jaguars, o quarterback jogou a final da AFC contra o Cincinatti Bengals de Joe Burrow descontado. Mas, ainda assim, devolveu a dolorida derrota que o tirou do Super Bowl do ano passado e conquistou o título de conferência. Agora, promete ainda mais sacrifício e superação para levantar o troféu Vince Lombardi pela segunda vez.
— Vou jogar com todas as lesões que os médicos me deixarem jogar — resumiu Mahomes.
O impenetrável Jalen Hurts
Jalen Hurts tinha seis anos quando viu Donavan McNabb, lendário quarterback do Philadelphia Eagles, disputar o Super Bowl contra o New England Patriots em fevereiro de 2005. Pela televisão, Hurts se viu em McNabb. O camisa 5 foi, naquela época, apenas o terceiro quarterback negro na história da NFL a chegar à final. O que Hurts não imaginava era que um dia iria repetir o feito.
— Quando criança, eu admirava ele. Agora, eu sinto que é surreal quando ouço as comparações e ouço que estamos no mesmo lugar. Isso é loucura para mim — revelou Huts, em coletiva de imprensa, nesta semana, antes do Super Bowl.
O que Jalen Hurts quer fazer diferente, neste domingo, é sair com o título, algo que Donavan McNabb não conseguiu nos 10 anos em que ficou em Philadelphia. O atual camisa 1 dos Eagles integra uma nova geração de quarterbacks que quebra as barreiras do preconceito. A posição é historicamente dominada por atletas brancos. Mas hoje são os negros que estão no centro dos holofotes. Eles não só crescem em quantidade na liga, como também mudam a forma de enxergar a posição.
— Isso é histórico. Tenho muito respeito por todos os caras negros que vieram antes de mim e também os que jogam comigo. Ser colocado nessa categoria é uma bênção — salienta o jogador de 24 anos.
Mesmo chegando ao Super Bowl, Jalen Hurts sofreu com críticas de quem duvidou de seu potencial ao longo da temporada. Contestações que, inclusive, o acompanham desde o futebol universitário. Considerado um jogador atlético, tem na corrida uma de suas principais armas. Quando precisa, ele resolve com as próprias pernas em campo.
Só que a capacidade de Hurts de correr fez com que sua habilidade como passador fosse colocada em dúvida, como se uma competência anulasse a outra. Com vitórias e um desempenho sólido, fez das críticas o seu combustível rodada após rodada. Perdeu apenas um dos 17 jogos que disputou, entre temporada regular e playoffs.
— Ele está sempre lutando contra a adversidade. É assim que ele é. Isso mostra como ele foi criado. Ele sempre foi calmo, legal, controlado. Quase impenetrável — define A. J. Brown, principal wide receiver de Hurts.