As sete seleções europeias que planejavam usar uma braçadeira colorida "One Love" em favor da inclusão e contra a discriminação desistiram, nesta segunda-feira (21), de fazê-lo diante da ameaça de "sanções esportivas" durante a Copa do Mundo no Catar, anunciaram poucas horas antes da partida entre Inglaterra e Irã.
"A Fifa foi muito clara, vai impor sanções esportivas se nossos capitães usarem as braçadeiras em campo. Como federações nacionais, não podemos pedir a nossos jogadores que se arrisquem a sanções esportivas, incluindo cartões amarelos", escreveram as sete federações.
Inglaterra, País de Gales, Bélgica, Dinamarca, Alemanha, Holanda e Suíça expressaram, contudo, sua "frustração" pela inflexibilidade da Fifa.
A França, que inicialmente integrava a iniciativa "One Love", já havia anunciado, por meio de seu capitão Hugo Lloris, que não usaria a braçadeira.
"Estávamos prontos para assumir multas aplicáveis em caso de desrespeito às regras sobre uniformes e equipamentos e estávamos muito comprometidos com essa braçadeira. Mas não podemos colocar nossos jogadores em uma situação em que possam receber cartões amarelos e até mesmo ter que deixar o campo" (em caso de segundo cartão amarelo), justificaram as federações.
As regras sobre uniformes e equipamentos prevê que os capitães usem "as braçadeiras fornecidas pela Fifa" durante as fases finais da competição. Caso contrário, o árbitro pode solicitar ao jogador que saia de campo para "corrigir seu uniforme", e em caso de descumprimento desta instrução, o jogador pode ser punido, a critério do árbitro.
- Críticas -
Como reconheceu o técnico da seleção da Dinamarca, Kasper Hjulmand, "entrar em campo e receber um cartão amarelo não dá", afirmou.
"Não podemos pedir aos jogadores que assumam esse risco", comentou nesta segunda.
Desde o anúncio de sua escolha domo sede do evento em 2010, o Catar tem sido alvo de fortes críticas, que se intensificaram ainda mais com a proximidade do torneio, principalmente sobre os direitos humanos, pessoas LGBTQIA+ e trabalhadores migrantes, incluindo os que trabalharam nas obras da Copa do Mundo.
Para demonstrar o seu compromisso com estas causas, várias federações europeias anunciaram em setembro a iniciativa "One Love".
A Fifa, que permaneceu em silêncio por muito tempo, reagiu no sábado oferecendo suas próprias braçadeiras de capitão, com mensagens muito mais consensuais como "Salve o planeta", "Educação para todos" ou "Não à discriminação".
Nesta segunda-feira, a entidade máxima do futebol mundial anunciou que suas braçadeiras oficiais com a mensagem "Não à discriminação" poderão ser utilizadas pelos capitães a partir de agora - a programação inicial era de uso a partir das quartas de final.
- Bélgica sem uniforme 2 -
Horas mais tarde, a Federação Belga (RFBA) anunciou que também não poderá usar sua segunda camisa de jogo, na qual está escrita a palavra "Love".
"Os jogadores e técnicos da Bélgica são grandes defensores da inclusão e continuarão mostrando seu apoio de outras maneiras", disse a RBFA.
Ainda nesta segunda-feira, após a vitória de sua seleção por 2 a 0 sobre Senegal, o holandês Davy Klaassen, autor de um dos gols, afirmou que a Fifa "forçou" os jogadores a não usarem a braçadeira colorida.
O técnico da Holanda, Louis van Gaal, não quis responder às perguntas "de caráter político", mas afirmou que "uma coisa é certa: não usaremos a braçadeira se isso significar receber um cartão amarelo".
"Devemos questionar se trata-se de uma decisão correta da Fifa, acredito que vocês possam responder corretamente a esta pergunta", completou.
* AFP