Em 40 anos de carreira como treinador, Luiz Felipe Scolari foi aposentado algumas vezes em momentos em que atingiu o subsolo da popularidade entre torcedores e imprensa. Teimoso, nunca aceitou a aposentadoria compulsória imposta pela opinião alheia. Seguiu com suas convicções, fez ouvidos moucos às críticas, se negou a encerrar sua vida profissional no ocaso e concedeu ao destino mais uma chance para talhar outra vez o seu nome na história. Aos 73 anos, vive seus últimos dias como técnico durante a final da Libertadores deste sábado (29).
Nos últimos oito anos recorreu ao conforto daquilo que conhecia, mas foi em um mundo inexplorado que encontrou o que se apresenta como o seu canto do cisne ao levar ao Athletico-PR para decidir, no Equador, contra o milionário Flamengo o título mais prestigiado da América do Sul.
Prestígio que se esfarelou após o 7 a 1. Buscou a retomada em seus porto-seguros. Primeiro se aninhou no abraço do torcedor gremista. Depois de ir à China, se acomodou no afago dos palmeirenses. Em uma postura com matizes heroicas foi atrás do conforto dos cruzeirenses em meio ao desconforto de jogar a Série B. Ainda encontrou razões para voltar ao Grêmio mais uma vez. Nem mesmo o título brasileiro de 2018 foi suficiente para que todas as feridas daquela derrota para Alemanha fossem cicatrizadas. Ultrapassado passou a ser o adjetivo mais vinculado a seu.
Em agosto, deu os primeiros indícios de que o gramado deixará de ser o seu habitat diário. Naquele momento poucos acreditavam que a despedida fosse sobre holofotes reluzentes. Como cansou de fazer com o Grêmio dos anos 1990, surpreendeu. Chegou a mais uma final antes de ver o seu currículo virar história.
– Não é acabar sendo campeão, pois a gente já é pelas oportunidades que recebeu na carreira, por tudo o que foi feito em todos os times. Já tomei a decisão (de se aposentar) que aos poucos pode ser modificada por uma ou outra razão, mas não deverei ser técnico do Athletico no ano que vem. Mas poderei indicar alguém. Fico até o fim do Brasileiro — explicou ao Podcast 90 + 3 da Conmebol.
Suas últimas linhas escritas podem ser inéditas no Brasil. Caso o Furacão erga a taça pela primeira vez, Felipão se tornará o primeiro brasileiros tricampeão da América e o primeiro a vencer a competição por três times diferentes (venceu com o Grêmio e o Palmeiras). A tendência é de que siga em uma função diretiva no Athletico-PR.
Se o ineditismo se confirmar, talvez ele adie o adeus por alguns meses para disputar o Mundial, um dos poucos títulos que ainda não conquistou.
– Posso ir ao Mundial caso ganhe, mas pode ser com alguém do lado — explicou.
Depois de rodar à procura de carinho daqueles que conhece, Felipão pode ter descoberto que o conforto, para ele, não está nos lugares, mas na situação de ser um azarão. Foi assim que despontou para o cenário nacional ao levar o modesto Criciúma ao título da Copa do Brasil de 1991. É assim que chega com o Athletico-PR. Afinal, ele é um eterno desafiante das probabilidades.
Técnicos com mais títulos na Libertadores
Quatro títulos
- Carlos Bianchi - Vélez Sarsfield (1994), Boca Juniors (2000, 2001, 2003)
Três títulos
- Osvaldo Zubeldía - Estudiantes (1968, 1969, 1970)
Dois títulos
- Roberto Scarone - Peñarol (1960, 1961)
- Lula - Santos (1962, 1963)
- Manuel Giúdice - Independiente (1964, 1965)
- Pedro Dellacha - Independiente (1972, 1975)
- Juan Carlos Lorenzo - Boca Juniors (1977, 1978)
- Luis Cubilla - Olimpia (1979, 1990)
- Telê Santana - São Paulo (1992, 1993)
- Luiz Felipe Scolari - Grêmio (1995), Palmeiras (1999)
- Paulo Autuori - Cruzeiro (1997), São Paulo (2005)
- Edgardo Bauza - LDU Quito (2008), San Lorenzo (2014)
- Marcelo Gallardo - River Plate (2015, 2018)
- Abel Ferreira - Palmeiras (2020, 2021)
As campanhas de Felipão na Libertadores
- 1995 - Grêmio - campeão
- 1996 - Grêmio - semifinal
- 1999 - Palmeiras - campeão
- 2000 - Palmeiras - vice-campeão
- 2001 - Palmeiras -quartas de final
- 2018 - Palmeiras - semifinal
- 2019 - Palmeiras - quartas de final