A carreira de um dos maiores esportistas de todos os tempos está chegando ao fim. O ponto final da trajetória de Roger Federer ocorrerá nesta sexta-feira (23), na O2Arena, em Londres, durante a disputa da Laver Cup. O suíço disputará a partida de duplas pelo time Europa ao lado de Rafael Nadal. Eles terão como adversário os americanos Frances Tiafoe e Jack Sock. A partida deve começar por volta das 16h30min.
É no Reino Unido, que dias atrás se despediu de Elizabeth II, a Rainha dos britânicos por 70 anos, que o suíço irá se despedir das quadras, onde foi rei absoluto, entre fevereiro de 2004 e agosto de 2008, e depois passou a dividir o reinado com Rafael Nadal, Novak Djokovic e Andy Murray, formando o chamado Big Four, que estará reunido pela última vez na capital da Inglaterra.
O começo da carreira do jogador que se despede com mais de mil vitórias e uma centena de troféus foi aos 8 anos, quando ele disputou seus primeiros jogos. Porém, aos 10, o jovem Roger começaria definitivamente a mudar sua vida. Ele passou a treinar com Adolf Kacovsky, um instrutor de tênis do The Old Boys Tennis Club. Tcheco de nascimento, ele deixou seu país durante a Primavera de Praga, em 1968, após tanques do exército da União Soviética invadirem a capital da Tchecoslováquia.
— Eu notei, de imediato, que esse menino era um talento nato. Ele nasceu com uma raquete nas mãos. O clube e eu rapidamente percebemos que ele era extremamente talentoso. Nós começamos a lhe dar aulas particulares, que eram parcialmente pagas pelo clube. Roger aprendia muito rápido, quando ensinávamos a ele algo novo, aprendia depois de três ou quatro tentativas, enquanto outros do grupo precisavam de semanas — disse Kacovsky a René Stauffer, autor do livro "A história de Roger Federer: busca pela perfeição", publicado em 2007 quando o suíço dominava o circuito e já acumulava 11 títulos de Grand Slam.
Mas apesar de ver um talento nato, o próprio Kacovsky acreditava que o jovem era extremamente ambicioso.
" Roger sempre dizia que queria se tornar o melhor do mundo. As pessoas riam dele, inclusive eu"
ADOLF KACOVSKY
Primeiro treinador de Roger Federer
— Roger sempre dizia que queria se tornar o melhor do mundo. As pessoas riam dele, inclusive eu. Achava que ele poderia ser, talvez, o melhor jogador da Suíça ou da Europa, mas não o melhor do mundo. Mas ele colocou isso na cabeça e trabalhou nesse sentido — relembrou o ex-treinador.
E no começo muitas decepções apareceram. Derrotas para adversários mais velhos, maiores, algo bastante comum entre jovens, mas que irritava por demais o futuro número 1 do mundo.
— Eu constantemente xingava e arremessava a minha raquete para qualquer canto. Meus pais ficavam com vergonha e me diziam para parar com aquilo ou não me acompanhariam mais nos campeonatos. Eu tive de me acalmar, mas esse foi um processo extremamente longo. Acredito que estava procurando pela perfeição muito cedo — contou Federer na mesma publicação.
Após algumas conquistas de torneios regionais e títulos nacionais, aos 12, Roger passou a treinar com Peter Carter, um australiano que disputou alguns torneios profissionais sem sucesso, mas que ao chegar a Suíça ganhou o inusitado convite para trabalhar um grupo de jovens tenistas. E foi através dele que Federer chegou ao programa Tennis Etudes, do Centro Nacional de Tênis, criado pela Federação Suíça de Tênis. Lá conheceu Pierre Paganini, um ex-atleta de decatlo e professor de esportes, que era preparador físico e chefe administrativo em Ecublens e que seria um dos responsáveis pelo seu início de carreira.
E em julho de 1996, mais precisamente no dia 15, ele disputaria sua primeira competição internacional na categoria júnior. Em seu primeiro jogo, vitória por 6/1 e 6/0 sobre o austríaco Lukas Rhomberg no Torneio Internacional Júnior da Suíça, onde seria derrotado pelo australiano Nathan Healey, nas oitavas de final. O primeiro de seus cinco títulos na categoria viria em maio de 1997, em Prato, na Itália.
Mas seria em 1998 que Roger Federer chamaria para si os olhos do mundo. Em janeiro seria semifinalista do torneio júnior do Aberto da Austrália. Em junho, se tornaria campeão de Wimbledon em simples e duplas e, no mês seguinte, disputaria sua primeira partida no circuito profissional. Aos 16 anos e 11 meses seria derrotado pelo argentino Lucas Arnold, no ATP de Gstaad, na Suíça. E logo depois cairia na estreia, desta feita em Genebra, para o búlgaro Orlin Stanoytchev.
Novamente na categoria júnior perderia a semifinal do Campeonato Europeu para o espanhol Feliciano López, antes de se sagrar vice-campeão do US Open, em decisão com o argentino David Nalbandian. E logo depois venceria sua primeira partida profissional. No 30 de setembro de 1998, o então número 878 do mundo passou pelo qualifying do ATP de Toulouse, na França, e na estreia surpreenderia ao bater o local Guillaume Raoux, 45º colocado na classificação mundial. Desde então, ele venceu outros 1.250 jogos. Em dezembro deixaria os torneios júnior, vencendo o Orange Bowl, nos Estados Unidos.
A entrada no circuito profissional de Federer se deu definitivamente em 1999, quando ele obteve como melhor resultado a semifinal do ATP de Viena e conseguiu o título de um Challebger, em Brest, na França. Em 2000, aos 19 anos disputou os Jogos Olímpicos de Sydney e quase foi ao pódio, mas perdeu a disputa do bronze para o francês Arnaud Di Pasquale.
E depois de disputar 47 torneios da ATP, finalmente veio o primeiro troféu. Em fevereiro de 2001, ocupando a 27ª posição do ranking, ele se sagraria campeão do ATP 250 de Milão, na Itália, vencendo o francês Julien Boutter na decisão. A última de suas 103 conquistas viria no ATP 500 da Basileia, na Suíça, em outubro de 2019.
No caminho desses inúmeros títulos e recordes, o tenista nascido na Basileia venceria 20 torneios de Grand Slam (8 em Wimbledon, 6 Australian Open, 5 Us Open e 1 Roland Garros), lideraria o ranking por 310 semanas, sendo 237 seguidas (fevereiro de 2004 a agosto de 2008), levantaria uma Copa Davis, venceria oito torneios de duplas, incluindo o ouro olímpico em Pequim-2008 com Stan Wawrinka e ainda garantiria uma medalha de prata nos Jogos de Londres-2012.
Roger Federer ainda se tornaria o jogador mais velho a liderar o ranking mundial. Aos 36 anos e 10 meses, em junho de 2018, ele voltaria a ocupar o posto de número 1. Em termos de premiação, Federer é o segundo jogador que mais arrecadou. Em 24 anos como profissional, ele recebeu US$ 130.594.339 (R$ 675.512.277). Na história do tênis, ela só perde para Novak Djokovic, que já amealhou US$ 158,9 milhões.
Confira números da carreira de Roger Federer:
Simples:
Jogos no ATP Tour - 1.526
Vitórias - 1.251 (2 º, depois de Jimmy Connors, 1.274)
Derrotas - 275
Títulos de simples - 103
Finais disputadas - 157
Participações em torneios do Grand Slam
Aparições - 81 (recorde ao lado de Feliciano López)
Jogos - 429
Vitórias - 369 (recorde)
Derrotas - 60
Títulos - 20 (3 º da história)
Aberto da Austrália: 6 (2004/06/07/10/17/18)
Roland Garros: 1 (2009)
Wimbledon: 8 (2003/04/05/06/07/09/12/17)
Aberto dos EUA: 5 (2004/05/06/07/08)
Finais disputadas - 31 (2 º, depois de Novak Djokovic com 32)
Semifinais - 46 (recorde)
Quartas de final - 58 (recorde)
Jogos no ATP Challenger Tour - 23
Vitórias - 16
Derrotas - 7
Títulos - 1
Duplas:
Jogos no ATP Tour - 223
Vitórias - 131
Derrotas - 92
Títulos de duplas - 8
Finais disputadas - 14
Jogos no ATP Challenger Tour - 9
Vitórias - 6
Derrotas - 3
Títulos - 1
Copa Davis:
Jogos - 70 (15 de simples e 5 de duplas)
Vitórias - 52 (40 de simples e 12 de duplas)
Derrotas - 18 (8 de simples e 10 de duplas)
Campeão em 2014
Copa Hopman:
Jogos - 36
Vitórias - 27 (14 em simples e 13 em duplas mistas)
Derrotas - 9 (4 em simples e 5 em duplas mistas)
Campeão em 2001/18/19
Medalhas olímpicas: 2
Ouro de duplas em Pequim-20008
Prata de simples em Londres-2012
Jogos contra tenistas do Top-10: 347
Vitórias - 224
Derrotas - 123
Jogos contra brasileiros: 8
Vitórias - 6
2002 - Masters de Hamburgo - 6/0, 1/6, 62 Gustavo Kuerten
2003 - Aberto da Austrália - 7/6 (4), 7/5, 6/3 Flávio Sarettta
2005 - ATP 250 de Bangcoc - 7/6 (6), 6/4 Marcos Daniel
2008 - US Open - 6/3, 7/5, 6/4 Thiago Alves - vitória número 600 da carreira
2012 - Masters de Indian Wells - 3/6, 6/3, 6/4 Thomaz Bellucci
2012 - ATP 500 da Basileia - 6/3, 6/7 (6), 7/5 Thomaz Bellucci
Derrotas - 2
2003 - Masters de Indian Wells - 5/7, 6/7 (3) Gustavo Kuerten
2004 - Roland Garros - 4/6, 4/6, 4/6 Gustavo Kuerten
Semanas na liderança do ranking mundial: 310 (2º, depois de Novak Djokovic com 373)
Semanas consecutivas na liderança do ranking mundial: 237 (fevereiro de 2004 a agosto de 2008) - recorde
Premiação - US$ 130.594.339
Outros recordes:
Único tenista, entre homens e mulheres a conquistar 100 ou mais vitórias em dois torneios de Grand Slam, com 105 em Wimbledon e 102 no Aberto da Austrália.
Maior número de vitórias no ATP Finals - 59
Maior número de vitórias em Jogos Olímpicos - 13 (empatado com Novak Djokovic)
Maior número de vitórias em partidas de até 5 sets - 424
Maior número de vitórias em quadra dura - 776
Maior número de vitórias em quadra de grama - 192