Um goleiro de um clube que disputou o Gauchão Sub-20 nesta temporada revelou ter recebido propostas entre R$ 3 mil e R$ 5 mil para manipular resultados da competição, de acordo com reportagem divulgada pela RBS TV.
O atleta não foi identificado tampouco o clube no qual ele defendeu na competição. O goleiro garantiu ter recusado a proposta.
— Eu posso não ter realizado o meu sonho, cara, mas eu segui todo o conselho, toda a ética que a minha mãe me deu, todos os passos que ela me deu — declarou.
FGF contratou empresa de auditoria para monitorar os sites de apostas
A Federação Gaúcha de Futebol (FGF) tem uma empresa contratada para monitorar os sites de apostas. No começo do mês, a FGF protocolou no Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) um pedido de abertura de inquérito disciplinar desportivo para investigar a partida entre Bagé e Farroupilha, pela Terceirona. O jogo terminou 7 a 0 para o clube bajeense, resultado que eliminou o representante de Pelotas precocemente da fase de grupos.
O que chamou a atenção, além do resultado, foi uma postagem feita pelo atleta Iago Padilha e depois apagada, por um jogador do Farroupilha, sugerindo que o placar foi "facilitado". No texto, ele diz que pediu desligamento do clube porque o time estaria sendo "usado por gente de fora para fazer aposta". Mais tarde, ele apagou a postagem.
Na mesma noite da divulgação da postagem de Iago Padilha, o clube publicou nas redes sociais um vídeo no qual aparecem o presidente do Farroupilha, Fábio Costa, e o jogador. Apenas o dirigente falou. E ele apresentou uma justificativa para as palavras do atleta:
— Todos estavam de cabeça quente. Iago Padilha foi mal interpretado em uma postagem. Ele se referiu à venda do jogo. Isso não é verídico, não aconteceu. Ele se referia à doação dos jogadores que entraram e não renderam 100%. Isso foi muito cobrado no vestiário, no caminho para o estádio, antes do segundo tempo. O Iago interpretou de uma maneira que as pessoas fizeram um ato criminoso, distorcendo o que ele falou. Ele quis falar da entrega dos jogadores — disse o dirigente.
Alertas de empresa no Gauchão Sub-20
Ao menos quatro jogos de categorias de base do Rio Grande do Sul receberam alerta de suspeitas de manipulação em 2022. A informação foi dada por GZH na semana passada. Todos envolveram o União Harmonia no Gauchão Sub-20. O time de Canoas disputou nove partidas e teve nove derrotas, ficando em último no Grupo C da competição. Os avisos foram emitidos pelo sistema de detecção de fraudes da SportRadar, empresa parceira da Federação Gaúcha de Futebol.
As suspeitas não são necessariamente pelo desempenho do time em campo e tampouco pelo resultado do jogo. Elas se dão pelo comportamento de apostas envolvendo a equipe, o que pode ser um indício de irregularidade ou uma mera coincidência. Os alertas por si só não provam nada. Eventuais irregularidades precisam de investigações complementares para serem comprovadas.
Uma das partidas recebeu o alerta por uma aposta de alto valor em um chamado "mercado menor". O apostador aplicou o equivalente a cerca de R$ 50 mil que sairia um gol depois de determinado minuto, já na parte final. O site que recebeu a investida não está entre os maiores e mais conhecidos. Trata-se de uma casa menor, com localização não revelada.
O presidente do União Harmonia, Cléu Fontoura, garantiu não saber de qualquer suspeita. Segundo ele, não foram repassadas informações sobre esses alertas. O dirigente diz que conhece o serviço da FGF para monitorar as partidas e que, ao longo do tempo, tem tomado providências para evitar manipulação de resultados.
Segundo Andreas Krannich, diretor de Serviços de Integridade da SportRadar, o monitoramento feito em parceria com a FGF é oferecido gratuitamente pela empresa. O Sistema Universal de Detecção de Fraudes (cuja sigla em inglês é UFDS) avalia e identifica a credibilidade dos palpites.
— Os alertas são gerados após fortes movimentos de cotações nos mercados de apostas ou dados de apostas irregulares de apostadores. Em alguns casos, esses alertas refletem o conhecimento prévio de um determinado resultado, como um número mínimo esperado de gols ou uma determinada equipe perder a partida, por exemplo — completa Krannich.
O Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) chegou a abrir uma sindicância para apurar a situação. Pela complexidade da trama, porém, repassou à Polícia Civil. A Coordenadoria de Recursos Especiais, investiga o caso.