O desenvolvimento do Bragantino tem chamado a atenção no futebol nacional. O investimento já está apresentando resultados nas duas frentes, tanto no feminino, como no masculino. Em sua primeira participação no Brasileirão Feminino A-2, já teve taça no armário. Comandadas pela técnica Camila Orlando, ex-Inter, a equipe conquistou o título inédito em pouco mais de um ano desde o início da modalidade no clube.
A explicação pela ascensão meteórica da modalidade no clube está especialmente na dedicação e no trabalho coletivo, conforme explica a técnica. O primeiro título veio após 18 meses da criação da equipe. O feito pode ser comparado, por exemplo, ao Corinthians, tricampeão brasileiro da modalidade. Um ano após a criação de um time exclusivo, o Timão conquistou a taça da Libertadores Feminina e o Paulistão em 2019.
Depois da conquista inédita, que veio com uma vitória sobre o Atlético-MG por 4 a 1, nos pênaltis, a meta é terminar o ano bem com a disputa do Paulistão. Atualmente, a equipe está na terceira colocação e vem de vitória sobre o Palmeiras, por 1 a 0.
— É muita dedicação, entrega, confiança de todo mundo. Um trabalho em equipe, com muito foco no objetivo, não só de ganhar título, mas de desenvolver a modalidade. Mesmo acontecendo com tanta velocidade, as coisas vão ficar cada vez mais difíceis. O plano é continuar com resultados de excelência, de desenvolver os atletas e colocar a cara do clube dentro do jogo. Agora, estamos na disputa do Campeonato Paulista e queremos terminar o ano bem — destacou Camilla em entrevista exclusiva à GZH.
Com o título da segunda divisão, a equipe está automaticamente classificada para a principal competição do futebol feminino nacional, o Brasileirão A-1. A meta da próxima temporada é se manter na elite.
Mas o projeto do futebol feminino do Bragantino vai além de resultados e títulos. A prova disso está na montagem do elenco, quem chegou foi porque acreditou na proposta. Além disso, o perfil das jogadoras contratadas é baseado em características polivalentes.
— Foram atletas que acreditaram no projeto no clube. Sempre estamos tentando trazer a cara do clube: que é desenvolver atletas e acreditar em um projeto de médio a longo prazo, de representar uma marca. E atletas com características de um futebol moderno, rápido e ofensivo.
Investimento
A sede do futebol feminino fica no CFA Red Bull, em Jarinu, onde o time também manda seus jogos. A final do Brasileirão A-2 foi sediada no estádio principal, o Nabi Abi Chedid, em Bragança Paulista.
O local possui cerca de 600 mil metros quadrados. São três campos oficiais de futebol, conta com alojamento, que abriga as categorias de base do masculino, além de refeitório, piscina, centro de fisioterapia, sala de estudos e salão de jogos e auxílio psicológico para os atletas.
— Tudo que eu realmente precisava para fazer um trabalho. Um clube estável, com segurança profissional. Um CT próprio para o feminino, com campo, vestiário, local de alimentação, academia. Tudo que precisamos para desenvolver a performance das atletas.
Categorias de base
Assim como no masculino, a chave para o desenvolvimento da modalidade está nas categorias de base. Mas essa não é uma realidade em todos os clubes, e as próprias competições eram raras no calendário. Somente a partir de 2019, a CBF promoveu a realização do Brasileirão sub-18 e sub-16.
Quando se trata de base, Camilla Orlando já apresenta suas qualificações. Foi quem comandou a campanha do título do Inter logo na primeira edição do Brasileirão sub-18. Na ocasião, as Gurias Coloradas foram campeãs ao empatar em 1 a 1 com o São Paulo. No jogo de ida, em Porto Alegre, o time gaúcho havia vencido por 1 a 0. Na campanha geral, foram oito vitórias, quatro empates e uma derrota, somando um aproveitamento de 71%.
—Foi um momento muito especial e que agrega muito valor ao que estou vivendo hoje. A categoria de base é fundamental para o desenvolvimento da modalidade, além de melhorar o aspecto técnico. Os clubes precisam investir nas categorias de base.
Formada em Educação Física pela Universidade de Brasília, a ex-atleta também estudou Lincoln Memorial University-EUA, e possui as licenças C e B da CBF.
Abdicar do campo para desenvolver a modalidade
Aos 36 anos, a ex-atleta também revelou um dos motivos que a fez tomar a decisão de aposentar as chuteiras. Agora, à beira do campo, ela planeja novos objetivos.
— Eu sinto saudades, tenho algumas amigas da época que ainda jogam. Foi uma escolha em prol do desenvolvimento da modalidade, tive um aprendizado que eu queria compartilhar de uma outra forma.
Com inspirações nos modelos de jogo de Tatiele Silveira, que comanda o Santos, e Emily Lima, técnica da Seleção Equatoriana, Camilla vive um sonho dentro do futebol e almeja oportunidades fora do Brasil.
—Tenho alguns sonhos e trabalhar na Seleção Brasileira é um deles. Atuar na Europa é um outro sonho que eu tenho guardado dentro do meu coração, e espero que um dia eu possa realizar. Mas eu posso dizer que já vivo um sonho, de trabalhar com o futebol e de se treinadora.
Desenvolvimento do futebol feminino
Da proibição da prática da modalidade por 40 anos até a obrigatoriedade a partir de 2019, o futebol feminino parece, enfim, viver uma nova realidade. Para Camilla, o momento agora é de paciência e trabalho.
— Acredito que agora é uma questão de tempo. Desenvolver a base ainda é uma atenção que o Brasil dar. Precisamos trabalhar para que gente possa colher frutos e impacte o nosso país. Estou torcendo que a Pia siga trabalhando forte, e quem sabe um título mundial. Acho que isso abriria muitas portas para o desenvolvimento, mas também não devemos ficar presos em títulos. Temos que aproveitar todas as portas que foram abertas na modalidade.