A seleção francesa será claramente a favorita no domingo (28), às 10h, pelo horário de Brasília, no Cazaquistão em uma partida das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022. Mas no futsal, a situação teria sido diferente porque os cazaques gradualmente se tornaram uma potência.
Graças aos investimentos privados e à chegada de jogadores vindos do Brasil, o futsal passou por um grande desenvolvimento no Cazaquistão.
— É uma das nações de referência, está em sétimo lugar no mundo, dezesseis lugares acima da França, e no futuro poderá ser campeã europeia ou mundial — avalia Pierre Jacky, técnico da seleção francesa de futsal.
Seu melhor clube, o Kairat Almaty, conquistou duas vezes a Liga dos Campeões (2013/15) e ganhou a Copa Intercontinental em 2014. Resultados impensáveis para times do Cazaquistão no futebol, onde o país ocupa apenas o 122º lugar no ranking da Fifa.
Nas competições internacionais, a seleção cazaque ainda espera para brilhar. Em seu primeiro Mundial, na Guatemala em 2000, estreou sofrendo um massacre de 12 a 1 contra o então campeão, o Brasil, e terminou sem vitória. Em sua segunda aparição, em 2016, na Colômbia, foi eliminada pela Espanha nas oitavas de final.
Ermek Tursunov lembra a interferência política em 2000, especialmente do presidente da Federação de Futebol, Rakhat Aliev, então genro do chefe de estado, Nursultan Nazarbaiev.
— Mudaram de comissão técnica, nos obrigaram a contar com alguns jogadores e deixar outros em casa. Fomos a um Mundial com um time que mal havia jogado junto — conta à AFP o ex-jogador de 59 anos, que agora trabalha como cineasta.
O reinado de Aliev na Federação terminou quando uma briga com seu sogro o levou a se exilar. Acusado de crimes pelas autoridades cazaques, se suicidou em 2015 na prisão austríaca onde aguardava a sua extradição.
Influência brasileira
E acabou sendo o Brasil, o país que havia humilhado o Cazaquistão na Guatemala, quem permitiu que o país evoluísse no futsal.
O treinador do Cazaquistão nesse esporte é Paulo Ricardo Figueiró Silva, o Kaká, brasileiro, assim como seu antecessor, Cacau. A seleção deste país da Ásia Central também conta com vários jogadores brasileiros naturalizados, incluindo alguns astros.
Léo Higuita, conhecido por seu jogo com o pé e eleito três vezes goleiro do ano no Futsal Planet Awards, e o atacante Douglas Júnior são acima de tudo "duas referências, dois grandes mestres do futsal", diz Djamel Haroun, goleiro e capitão do seleção francesa de futsal.
Ambos chegaram ao Cazaquistão graças a Kairat Orazbekov, um rico empresário que fundou o AFC Kairat em Almaty, enviando regularmente olheiros à América do Sul para encontrar astros que pudessem reforçar seu projeto.
— Cuidamos dos nossos talentos brasileiros aqui em Almaty. No Brasil ninguém os conhecia e agora todos os conhecem — diz com orgulho à AFP.
Sua integração e métodos de treinamento inovadores - Orazbekov insiste que foi o primeiro a fazer o goleiro jogar com os pés no futsal - impulsionaram "o crescimento muito forte" dos jogadores locais.
— Apesar de terem usado as nacionalizações para chegar à linha de frente e ganhar títulos, eles permitiram que muitos cazaques elevassem o nível, se formarem no futsal—admite Haroun.
Como resultado da evolução, o AFC Kairat se tornou um pesadelo para o Barcelona, derrotado em várias ocasiões pelos cazaques. A última vez foi em 2019, nas semifinais da Liga dos Campeões, na Arena Almaty diante de 12 mil espectadores.
O futuro parece muito promissor para o futsal no Cazaquistão, já que a maioria das escolas do país agora tem uma quadra para esse esporte, de acordo com Kairat Orazbekov.
Uma situação que contrasta com o futebol, onde falta infraestrutura.
— Se a Eslováquia tem 1.200 campos e a Bélgica três vezes mais, nós temos 50 no máximo. Não dá para lutar boxe sem um ringue e não dá para jogar futebol sem campos — lamenta o empresário.
AFP