Não importa quanto tempo passar e quantos feitos forem alcançados, aquele Chicago Bulls de Michael Jordan continuará sendo soberano para a opinião pública do basquete. Mesmo que maior parte dela — parcela a qual me incluo — tenha acessado aquele time de maneira tão limitada, assistindo aos vídeos dos lances mais marcantes pela internet. E esse é o paradigma que a série "The Last Dance" se propõe a quebrar.
Com um arsenal de imagens exclusivas dos bastidores daquele time — o que nos leva a questionar como ficaram guardadas por tanto tempo —, a produção traz uma narrativa contundente e harmônica sobre um elenco que, por mais dominante que fosse, conviveu com tensões internas e risco iminente de reformulação antes de conquistar o tricampeonato de 1998 — o sexto título em oito anos.
Não se trata de uma série que "protege" Michael Jordan. Pelo contrário, oferece espaço para que seus algozes dos tempos de quadra, como Gary Payton e Isiah Thomas, não se tornem meros vilões da cronologia. Outros depoimentos, como de lendas do esporte, de comentaristas e, até mesmo, de ex-presidentes americanos ajudam a mensurar o "fenômeno Jordan" para a década de 1990, que balançou mercados, culturas e contextos sociais.
A sensação de intimidade que temos com um dos maiores astros do esporte também se faz muito presente. É questão de tempo, por exemplo, para que você passe a chamá-lo de "Mike". Inclusive, é fundamental para entendermos episódios específicos de sua carreira, assim como humanizar outros, caso de sua aposentadoria em 1993, a pleno auge físico e técnico. Foi desobedecendo a lógica de uma carreira no esporte que Jordan se tornou ainda maior.
Fica a recomendação aos abstinentes por esporte. Com tanta nostalgia sendo levada à tona neste momento de quarentena, não deixa de ser uma experiência oportuna ao exclusivo. É como se os fatos de uma história conhecida estivessem no presente.