Seria difícil acreditar, há dois anos, se alguém dissesse que Tiago Nunes seria campeão de um torneio continental em 2018 e de um nacional em 2019. À época, o treinador, pouco conhecido, acabara de chegar ao Athletico-PR, para comandar o time sub-19, após bom trabalho à frente do Veranópolis no Gauchão 2017.
Aos 39 anos, o gaúcho de Santa Maria foi campeão da Copa Sul-Americana em 2018 e, na noite desta quarta-feira (18), em pleno Beira-Rio, venceu o Inter mais uma vez e conquistou o título inédito da Copa do Brasil com o Furacão. A coroação de um sólido trabalho.
Após passar por várias equipes, ainda como preparador físico ou treinador de categorias de base, Tiago Nunes teve a grande oportunidade em meados de 2018, com a demissão de Fernando Diniz do Athletico. Assumindo o grupo principal, o jovem técnico não só tirou os paranaenses da zona de rebaixamento como conquistou o primeiro título internacional da história do clube. Nove meses depois, venceu o maior torneio mata-mata do país.
— Tiago faz parte da promissora leva de novos treinadores brasileiros que entenderam que nada supera o estudo e a compreensão do jogo. Assim como Roger Machado, Odair Hellmann, Fábio Carille e Rogério Ceni, Tiago é adepto da metodologia integrada, que simula situações de jogo nos treinos, em rotinas curtas e de alta intensidade. Processos como jogos reduzidos, rondos (rodinha de bobo) e treinos de tomada de decisão fazem dessa metodologia a mais contemporânea possível — destaca Gustavo Fogaça, Comentarista do DAZN e Analista de Desempenho. — Isso garante título? Não, o esporte se chama futebol. Mas a tradução das suas ideias em um modelo de jogo de acordo às características do seu elenco, só foi possível porque Tiago Nunes teve tempo para trabalhar, conhecer o elenco, confiança da direção e toda uma estrutura a seu favor — complementa.
Para chegar ao Athletico, ainda em 2017, Tiago Nunes contou com a colaboração de um companheiro de profissão: Paulo Autuori. Naquele momento, o experiente treinador estava saindo da beira do campo para ser coordenador técnico do clube. Foi ele um dos responsáveis por levar Tiago ao Furacão, servindo de inspiração para o gaúcho.
— Ao contrário do que muita gente pensa, o Tiago não tem inspiração no trabalho do Fernando Diniz. Pelo contrário. Ele traz dois grandes pontos: a construção de um "DNA Atleticano", que vem desde 1999, quando o Athletico começou a montar seus times em cima de força física e velocidade, e um trabalho inspirado no Paulo Autuori. Ele colocou o Tiago em uma função mais forte dentro do clube, então ele (Tiago Nunes) sempre falou que o trabalho dele era uma continuidade do que pensava o Paulo Autuori. Só que o Tiago é mais ousado do que o Autouri, que pautou o seu trabalho no Athletico com a expressão "saber sofrer". O Tiago não, põe o Athletico para jogar, e isso, para mim, é uma grande diferença. Achou jogadores no elenco que poderiam recuperar esse jogo de intensidade e transição rápida — avalia Cristian Toledo, da RPC, afiliada da Rede Globo .
Toledo acredita que a conquista da Copa do Brasil coloque o gaúcho de Santa Maria em um novo patamar dentro do futebol nacional.
— Ele passa a pertencer a um novo grupo de treinadores no futebol brasileiro. Surge fulgurante com uma temporada a valer como técnico profissional e com as conquistas que têm, e o Athletico tem um ídolo. O Tiago, mais que um treinador, é hoje o principal ídolo do Athletico — exalta.
O lado humano de Tiago Nunes é outro ponto analisado por quem conhece seu trabalho. No comando de um grupo que mescla jogadores jovens e experientes, o técnico mostra seu lado professor, até por sua formação acadêmica — é graduado em educação física pela UFSM.
— O Tiago, além de treinador, é um gestor e coordenador do departamento de futebol. O sistema dele de trabalho no time principal também aplica em todas as categorias de base. Ele ensina e orienta todos os treinadores a aplicar essa metodologia de treino, questão tática mesmo. Todos os times jogam no mesmo formato dentro do Athletico. Uma fisolofia do clube. O Tiago é uma pessoa bem humana, muito de gestão de grupo. Ele gosta de trabalhar com jogadores que ele confia, gosta de preparar o jogador — analisa Monique Vilela, da Rádio Banda B, citando como exemplos Léo Pereira, Bruno Guimarães e Renan Lodi, integrados ao elenco principal no ano passado, e Khelven nesta temporada. — Acho ele um técnico semelhante ao Tite, agregador, de grupo, de condução de elenco. É muito educador — acrescenta.
Maior da história do Athletico-PR?
Ao conquistar duas das mais importantes taças do clube, em sequência, Tiago Nunes, de forma inevitável, surge como um dos grandes treinadores da história do Athletico. Possivelmente o maior. Antes de seu comando, o título mais expressivo da equipe paranaense era o Brasileirão de 2001, com Geninho como treinador.
— Até então era o Geninho, campeão brasileiro de 2001, e o título da Copa Sul-Americana, diante da trajetória do Tiago, não só do título, mas de ter resgatado o time da zona de rebaixamento ano passado, meio que igualava ele ao Geninho. Então esse título da Copa do Brasil veio para realmente ultrapassar, porque são dois títulos de extrema importância, um nacional e outro internacional — opina Monique Vilela.
Os dois títulos, além da Levain Cup (antiga Copa Suruga), elevam o patamar do Athletico no cenário do futebol brasileiro e internacional. Muito também pelo fato de os times do Paraná, historicamente, terem poucas conquistar de expressão.
— O Tiago é o maior técnico da história do Athletico. Puramente pelo fato de ter, das três maiores conquistas do clube, duas terem acontecido pelo comando dele, e num período muito curto de tempo. O futebol paranaense é carente de grandes títulos, e geralmente são espaçados (Brasileiros do Coritiba em 1985 e Athletico em 2001). Agora não. Numa sequência de trabalho, o Athletico conquista dois títulos e não pode se retirar isso do trabalho do Tiago Nunes — destaca Cristian Toledo.
Ao confirmar o título da Copa do Brasil, Tiago Nunes tornou-se o quarto treinador mais jovem a conquistar o torneio nacional. Com sua primeira taça, o Athletico faturou o montante de R$ 52 milhões (totalizando R$ 64,35 mi em premiações), além de vaga direta na fase de grupos da Libertadores 2020.