A presença na final da Copa América após 44 anos é um fato histórico para o Peru mesmo em caso de derrota para o Brasil no próximo domingo (7), às 17h, no Maracanã. A classificação para a decisão com goleada de 3 a 0 sobre o rival Chile na semifinal é apenas mais um capítulo da ascensão da seleção peruana após a chegada do técnico Ricardo Gareca, que reencontrou o rumo vitorioso da carreira depois de uma passagem ruim pelo Palmeiras.
Ricardo Gareca já era um técnico vitorioso quando chegou ao Palmeiras, em maio de 2014. O treinador tinha no currículo os títulos de dois Campeonatos Argentinos pelo Vélez Sarisfield, da Conmebol pelo Talleres e do Campeonato Peruano pelo Universitário. A passagem pelo Brasil, porém, foi curta. Ele acabou demitido após apenas três meses de trabalho.
— O Gareca assumiu o Palmeiras em um período complicado. A expectativa era grande por ser o ano do centenário, mas o clube passava por muitos problemas financeiros, o orçamento era curto e o elenco não era forte — aponta o repórter do Lance Thiago Ferri, setorista de Palmeiras.
Apesar da falta de bons resultados - comandou o Palmeiras em 13 jogos e conquistou apenas quatro vitórias -, Ricardo Gareca deixou boa impressão pelo início do trabalho.
— Os resultados não vieram, o Palmeiras se aproximou da zona de rebaixamento e o Gareca não soube lidar bem com isso. Ele dizia que não iria mudar o seu estilo, que era ofensivo. Mas o começo do trabalho havia sido promissor, o time fez bons jogos e gerou uma expectativa de que iria engrenar. O Paulo Nobre (presidente do clube paulista na época) disse antes de deixar o Palmeiras que, se pudesse, gostaria de trabalhar novamente com o Gareca porque ele sabia da competência do treinador — recorda Ferri.
A chegada ao Peru
Seis meses após deixar o Palmeiras, Ricardo Gareca foi anunciado como técnico do Peru. Seu primeiro desafio foi a Copa América de 2015, disputada no Chile. O treinador conseguiu levar o time peruano até a semifinal, na qual foi eliminado pelo anfitrião. Em 2016, na Copa América disputada nos EUA, o Peru caiu nas quartas de final, mas teve como grande feito a vitória de 1 a 0 que eliminou o Brasil ainda na fase de grupos.
— A chegada do Gareca foi um acerto. Ele conhecia as características dos jogadores peruanos, pois já havia sido campeão com o Universitário. Ele conhece bem o país e entende a maneira de pensar do jogador peruano — diz o jornalista peruano Jean Pierre Maraví.
As boas campanhas nas Copas América foram apenas um início. Nas Eliminatórias, Gareca fez história. Com uma arrancada na reta final, o Peru conseguiu vaga para a repescagem, onde superou a Nova Zelândia e obteve classificação para uma Copa do Mundo após 36 anos.
O Peru foi eliminado na primeira fase da Copa da Rússia, mas a história já estava feita. Gareca acabou acertando sua renovação após o Mundial e chegou ao Brasil para a Copa América. A goleada sobre o Chile na última quarta-feira, na Arena do Grêmio, fez a seleção peruana voltar a uma final após 44 anos. A Seleção Brasileira tem um inegável favoritismo para a decisão, mas o bom trabalho de Gareca é um motivo de confiança para os peruanos.
— Ele é um técnico detalhista, que trabalha toda a prévia do jogo nos treinos. O Gareca consegue antecipar bem o que pode acontecer nas partidas — avalia Jean Pierre Maraví.
Como jogador, Gareca ajudou a tirar o Peru de uma Copa do Mundo
Agora ídolo como treinador, Ricardo Gareca foi um dos responsáveis pela não classificação do Peru para a Copa do Mundo de 1986. Nas Eliminatórias de 1985, o então atacante fez o gol que colocou a Argentina no Mundial do México em um confronto direto pela vaga com a seleção peruana.
Argentina e Peru se enfrentaram no Monumental de Núñez pela última rodada daquelas Eliminatórias. Os argentinos tinham a vantagem do empate, mas perdiam por 2 a 1 até que Ricardo Gareca anotou o gol que fez o estádio do River Plate explodir em comemoração. O 2 a 2 classificou a Argentina e fez o Peru jogar a repescagem, na qual foi eliminado pelo Chile.
Mesmo tendo feito o gol da classificação, Ricardo Gareca acabou não sendo convocado pelo técnico Carlos Bilardo para a Copa do Mundo, a última vencida pela Argentina.