Para quem não sabe, foi no maior templo do futebol de várzea de Porto Alegre, o Ararigboia, hoje infelizmente desativado, que o VAR foi usado pela primeira vez na história. Isto aconteceu no início dos anos 1960, época de ouro do esporte amador na cidade, de clássicos inesquecíveis, envolvendo equipes como o Clarão da Lua, Universal, Flor de Alá e o Bagé, do zagueiro Baiano, entre tantas outras. Além é claro, do próprio time da casa, originalmente chamado de Sulbrasil.
Pois quem inventou o VAR foi o “Seu” Abílio, modesto zelador do parque, e que, aos domingos, se apresentava como treinador do primeiro quadro do “Arari”, como o time carinhosamente era chamado pela turma da zona. Como treineiro, o “Seu” Abílio, virava Abélio, apelido dado pelos jogadores em homenagem ao inesquecível Abílio dos Reis, famoso descobridor do Bráulio e de outros craques do Inter daquela época.
Voltando à história do VAR. Como todo futebol raiz, invariavelmente saía muita discussão e ranger de dentes em cada jogo. Ninguém admitia perder. Foi falta, não foi; foi pênalti, não foi. E assim por diante. Só que o melhor amigo do “Seu” Abílio era o sueco mais parrudo que apareceu por estas bandas, tórax tipo laje, os braços, dois troncos de eucalipto limão, que segura fácil qualquer tornado que se apresente por aí. E tinha cara de brabo, de fazer espantar qualquer um.
E o suecão adorava futebol, desde que viu Garrincha nos inesquecíveis Brasil 5x2 Suécia no Mundial de 1958. Pois o Orvar, nome do estrangeiro, que veio para cá movido por coisas do coração, era um dos 50 mil torcedores espremidos no Estádio Rasunda para nunca mais na vida esquecer do show de Pelé, Garrincha e Cia.
Novamente retornando ao VAR. Pois na hora do pega, para baixar a poeira, o Abélio berrava aos exaltados jogadores dos dois times, que salivavam em volta do pobre juiz: “Se foi pênalti ou não, perguntem ao Var”, que era a forma como ele pronunciava o nome do sueco, sempre grudado na tela, olhar fixo e frio em cada jogada. Dizem que o lateral Sebinho, do Clarão, liso também na lábia, uma vez tentou uma resenha com o Mr. Var. Mas, só tentou.