Abrindo um largo sorriso sempre que chamado de “fábrica de medalhas”, Gustavo Endres foi a atração do “Cardápio do Zé” no Gaúcha Sports Bar na última segunda-feira (5). O passo-fundense, ex-jogador de voleibol e hoje gestor no time do Canoas, durante uma hora falou de sua vida, da vitoriosa carreira dentro da quadra e a realidade de agora fora dela. Também revelou planos e possibilidades futuras.
Aos 42 anos, sempre modesto, Gustavo lembrou de sua saída de Passo Fundo ainda garoto para as categorias de base do Banespa e da ausência por 20 anos de sua terra, o Rio Grande do Sul. Ele garante que isto lhe fazia muita falta.
- Sou Gauchão, Tchê. Aprendi a gostar desta terra com meu pai, com minha família e torcia para que fizessem uma propostinha para eu voltar. Demorou.
A dificuldade, ele reconhece, se deu porque seu nível era o melhor do mundo. As conquistas pela Seleção Brasileira como os mundiais de vôlei em 2002 e 2006 ou as medalhas de ouro e prata em Atenas e Pequim respectivamente, o fizeram jogar na Itália durante oito anos, igualmente ganhando títulos nos seus clubes. Modesto, diz que “não tinha talento” e que por isto treinava muito para ser eficiente, o que o tornou melhor bloqueador do mundo e melhor sacador em diversos torneios internacionais.
As histórias contadas são muitas. São recordadas glórias como o ouro olímpico em 2004, tido como o “ápice daquela geração”, ou insucessos como o dos Jogos Pan-Americanos de 2003 em que não tem dúvida em justificar pelo “salto alto” a derrota na final para a Venezuela. Bernardinho é seu ídolo, mas reconhece que é alguém que precisa ser entendido.
- Ele é muito focado até na hora de descontrair. Nos churrascos da Seleção em Saquarema, não ficava mais de meia-hora e se recolhia para estudar jogos. O vôlei brasileiro se divide entre antes e depois de Bernardinho.
Ao falar do seu momento como gestor, diz estar gostando e aprendendo.
- Foi tudo um projeto. Encerrei minha carreira no Rio Grande do Sul, joguei no Canoas até 2015 e agora estou na gestão, tentando repassar o que aprendi a uma garotada muito boa. Temos um compromisso com a comunidade, visitamos escolas, saímos para jogar em outras cidades, como aconteceu com grande êxito na semana passada em Gramado, e estamos num bom caminho para chegar às quartas-de-final da Superliga.
Morando em Canoas e com os pais em Passo Fundo, Gustavo se sente feliz em estar na sua terra, ficar perto dos parentes, ver seu filho mais velho Eric ir para São Paulo jogar nas categorias de base do SESI seguindo os passos do pai, curtir sua outra paixão, o Inter – ele agora costuma a ir a jogos no Beira-Rio - e até vendo a possibilidade de se lançar na vida pública.
- Já tive convite de dois partidos para me candidatar a Deputado Estadual. Ao meu estilo nas quadras, inicialmente fiz um bloqueio forte. Hoje já penso de outra maneira. Não sei se vou concorrer. Vou precisar me certificar de muitas coisas, principalmente do que eu posso fazer, se um dia for um homem público. Os políticos estão muito desgastados e sei que a pressão nesta área é muito maior do que no esporte, envolvendo o indivíduo e a família. Estou ainda em dúvida.
O bom humor é uma marca de Gustavo, seja quando conta histórias sem final feliz como sua primeira Olimpíada em Sydney em 2000 ou analisa a crise política e a corrupção na Confederação Brasileira de Vôlei, ou quando demonstra esperança na seleção agora treinada pelo amigo gaúcho Renan Dal Zotto.
- Foi meu técnico na Itália. Lá a gente falava “bah” e “tchê”. Tenho certeza que dará uma cara boa ao time. Tem um jeito diferente do Bernardinho, mas com eficiência semelhante.
Um cara grande (2,03m), campeoníssimo, de enorme atividade e energia, inquieto, mesmo depois de parar de jogar, e sobretudo de alto astral. Confira as revelações de Gustavo Endres no “Cardápio do Zé” .