A Fifa deve confirmar, nesta terça-feira, a maior mudança na história de 87 anos da Copa do Mundo. A partir de 2026, a competição passará a ter 48 seleções, 16 a mais do que hoje. A ampliação é uma das bandeiras de Gianni Infantino, presidente da Fifa que substituiu Joseph Blatter – mas a medida vem sendo criticada por torcedores e jornalistas em todo o mundo. Perguntamos aos colunistas e comentaristas de Zero Hora e Rádio Gaúcha as suas opiniões sobre a decisão:
André Baibich – Zero Hora
A ideia de inflar a Copa do Mundo e deixá-la com 48 equipes conseguirá a proeza de fazer murchar o futebol de seleções antes e durante seu principal evento.
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O calendário atual de Eliminatórias, competições continentais esporádicas e Copa das Confederações não é suficiente para manter forte interesse nos times nacionais antes da Copa do Mundo. Nos quatro anos pré-evento, poucos jogos de seleções chamam a atenção do torcedor. Há o ocasional Brasil x Argentina aqui, um ou outro confronto de grandes da Europa e as últimas rodadas das Eliminatórias, em que as vagas ainda estão por definir.
Com mais lugares na Copa a distribuir, as Eliminatórias perderão este pequeno atrativo que têm. Equipes da América do Sul, por exemplo, jogariam um torneio arrastado em 18 rodadas para que, ao final, tenhamos mais classificados do que eliminados. Que motivação terá o líder nas últimas cinco, seis rodadas? A alternativa, de unificar as Américas para fazer um torneio parecido em tamanho com o europeu, carrega o problema das longas viagens em um calendário já apertado.
Um dos atrativos de uma Copa é a empolgação que antecede cada jogo. Inflado, o torneio terá proliferação de confrontos entre times de baixíssimo nível técnico. Perderemos um pouco da magia que cerca cada partida de uma Copa do Mundo. Ao tentar ser político como seu antecessor, Gianni Infantino dá um tiro no pé e desvaloriza o principal produto da entidade que dirige.
Cléber Grabauska – Rádio Gaúcha
A Fifa oficializa uma mudança que pode matar a galinha dos ovos de ouro. Em nome de votos e da luta pelo poder, a nova direção da entidade amplia o número de participantes e banaliza a competição mais importante do mundo. Até 1978, tínhamos 16 seleções. A partir da Espanha, em 1982, passamos para 24. E desde 1998, 32. Daqui a dois mundiais (2018 e 2022) chegaremos a 48.
O estrago não será somente com o acréscimo de muitas equipes pouco interessantes. A provável fórmula também será um monstrengo. Serão 16 grupos com três times, classificando dois para a fase seguinte. Até mesmo as Eliminatórias, que sempre foram muito disputadas e interessantes, perderão a graça. Uma prova disso é o que se esboça para a América do Sul que passará de 4,5 vagas para 6,5. Ou seja, das 10 integrantes da Eliminatória Sul-Americana, seis terão vaga direta e a sétima irá para a repescagem. Isso sem falar dos problemas que o país sede, a partir de 2026, terá para acolher 48 seleções e organizar 80 jogos em 32 dias.
A única coisa boa nessa historia é que, caso o Brasil se classifique para os Mundiais da Rússia e Catar, possivelmente será integrante perpétuo da Copa do Mundo: com essa nova distribuição de vagas, fica praticamente impossível ficar de fora da competição.
Luiz Zini Pires – Zero Hora
A marca da corrupção no logo da Fifa é quase uma tatuagem. Demora, mas sai. Se livrar da imagem da antiga entidade é pura obrigação, meta do novo presidente, Gianni Infantino, um suíço criado no andar de cima do futebol europeu.
Ele precisa mudar, transformar, caso contrário a Fifa perderá poder, força e relevância planetária. Com uma nova Copa do Mundo, 48 seleções, ele agrada patrocinadores, redes internacionais de TV, dirigentes que o elegeram em fevereiro passado e os executivos da própria Fifa, que imaginam ganhos de mais de R$ 20 bilhões – algo como quase 30% a mais do que o Mundial do Brasil de 2014. Infantino mostra que está comprometido com profundas reformas.
Os grandes clubes europeus não apoiaram as mudança. Suas estrelas vão jogar mais, ganhar mais dinheiro, mas descansar pouco. A torcida ainda não sabe bem o que pensar. Faltam detalhes sobre a forma de disputa. A grande queixa é a perda técnica. Ao contrário de um encontro dos melhores, a periferia do futebol, que sem infraestrutura e investimentos evolui pouco, pode ganhar a chance da sua vida. Mudar radicalmente nem sempre significa melhorar.
*ZHESPORTES