A reconstrução da Chapecoense ficará a cargo, dentro de campo, de Vagner Mancini. Contratado semanas após a tragédia que vitimou grande parte do elenco e da comissão técnica do clube, o treinador sabe do desafio que terá pela frente. Mancini vai comandar o time em um ano com calendário cheio: a Chape fará sua estreia na Libertadores e terá também Catarinense, Primeira Liga e Brasileirão ao longo de 2017.
Quão difícil está sendo a montagem do grupo para 2017?
Estamos tendo um pouco de dificuldade pelo tempo curto que temos. Mas, dentro das possibilidades, precisamos formar um time com o perfil do clube. Não adianta querer mudar radicalmente. Temos ido atrás de atletas com força, velocidade e que tenham lastros tático e emocional. Conversamos com os jogadores, buscamos informações de cada um para, lá na frente, ter mais acerto do que erro.
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Há um esboço de time para a estreia em 25 de janeiro?
Além das contratações que estamos negociando, temos atletas voltando de empréstimo e nove jogadores do sub-20, que farão parte do elenco no início do ano. Espero ter um esboço de time em 10 de janeiro. Trabalhamos, neste primeiro momento, com a ideia de ter 25 atletas para começar a temporada. A equipe que jogará no dia 25 contra o Joinville e atuará no primeiro semestre talvez esteja um pouco distante daquilo que pretendemos, mas faremos ajustes. O maior desafio é ter um time competitivo em tempo recorde.
Qual o peso que terão os atletas sobreviventes?
Sabemos que a figura deles será muito importante ao longo da temporada. Não sabemos quando poderão retornar, mas queremos que façam parte do dia a dia.
Como avalia o calendário da Chape, recheado de competições e jogos decisivos?
Teremos muitos campeonatos, todos duríssimos. A Chapecoense terá o calendário que todo time brasileiro sonha. Lógico que viemos de uma situação inusitada, mas estamos empenhados em montar a equipe e reestruturar o futebol. No primeiro semestre, já teremos Recopa e Libertadores, que será nossa prioridade. Quanto às demais competições, vamos focar mais no Catarinense. A Primeira Liga, por ser um torneio amistoso, pretendemos usar como forma de preparação.
Pensando no estilo de jogo, você fez algum pedido especial de jogador à direção?
Não. Esta não é uma temporada em que estamos reforçando o time. O momento é de montar todo o elenco. Reforçar é difícil, construir é bem mais complicado. Não estamos em condições de escolher, e a Chapecoense não tem um aporte financeiro para buscar o jogador que a gente sonha. Contrataremos com coerência.
Os discursos solidários têm resultado em apoio concreto?
Tem equipes que estão ajudando bastante. Quem realmente quis ajudar veio atrás e, no momento certo, vamos agradecer publicamente a todos. Mas teve clubes que estão nos tratando como se tudo estivesse normal. Não estou dizendo que estão errados, pois sabemos que, no fim do mês, há contas a pagar. Mas muita gente veio a público dizendo que iria ajudar e isso não aconteceu.
Pessoalmente, o que representa treinar a Chapecoense neste renascimento?
Não encaro só como oportunidade de trabalho. É uma missão. Teremos um ano cheio de competições, mas me sinto lisonjeado por ter sido escolhido para participar desta reconstrução. Me senti muito bem como ser humano. Às vezes, a gente fica focado em aspectos de trabalho, e temos outras coisas importantes, como a vida.
Como imagina o primeiro jogo na Arena Condá?
Ninguém sabe, na verdade, o que vai acontecer, como a torcida vai reagir. Tenho a esperança de que tenhamos muito apoio não só em Chapecó, mas até nos jogos fora de casa. Hoje, a Chapecoense é o segundo time de todos os habitantes do Brasil, da América e do mundo. Isso tudo fortalecerá a equipe a se reerguer.
*ZHESPORTES