O fim de ano redentor do Grêmio e o título histórico da Copa do Brasil passam necessariamente pelos pés de um jogador cuja relação com a torcida tem nuances de amor e ódio, como aliás haveria de estar escrito em qualquer enredo perfeito de uma conquista como essa.
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Esse meio-campista não é o mais forte, não é o mais habilidoso. Não cultiva uma barba grisalha, não acerta lançamentos de 50 metros, não é o melhor marcador, nem se destaca pela liderança ante os colegas, mas talvez tenha sido o personagem mais importante do título gremista depois de Renato (vá lá, e da Carol) Portaluppi.
Devo desculpas à nação gremista, porque execrei Ramiro. Desprezei seu futebol, sua entrega, seu potencial anímico. Mas enquanto eu e a torcida subjugávamos o Ramirinho, aparecia sutilmente o dedo cirúrgico, certeiro e abençoado de Renato, que entendeu, como em um passe de mágica, que o pequeno Ramiro poderia compor o lado direito da meia-cancha, com seu fôlego inesgotável e sua dedicação comovente.
Ramiro onde havia Giuliano, e fiat lux!, aparece o componente decisivo do treinador competente, mas sobretudo com estrela. Quando o mais razoável seria inserir Bolaños ou Everton no time, por tudo o que eles representam, Renato fez luzir o seu brilho com uma cartada perfeita: Ramiro corre para Douglas jogar, Ramiro marca para Luan flutuar, Ramiro é um cumpridor fordista de suas tarefas, um repetidor burocrático – mas extremamente eficiente – de suas funções. Ramiro.
Os acertos do treinador estão para muito além dessa escolha, é verdade. A começar pela defesa, que passou a marcar individualmente e não por zona, um modernismo europeu que precisa de 10 Beckenbauers em campo para funcionar. Postou Walace e Maicon à frente da área, como vigias implacáveis, como volantes ortodoxos e não mais como "médios apoiadores", mas com liberdade para sair se necessário. Protegidos por eles, Kanemann e Geromel revelaram-se uma dupla de zaga segura e complementar, e até Marcelo Oliveira melhorou. Mas a cereja do bolo foi, para surpresa dos críticos, a escolha assertiva por Ramiro: recuado com Roger, um jogador improdutivo, constrangido, comum. Aberto pela direita com Renato, um operário indispensável, que fez Edilson, fez Douglas e fez o Grêmio crescer. Tu não jogas nada, Ramiro. Mas tens o meu respeito, tens minha admiração. E meu pedido mais sincero de desculpas.
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